i68818.jpgBoa parte das crianças brasileiras de dois a seis anos come mais do que deveria e, ainda assim, carece de nutrientes essenciais ao crescimento. Faltam à alimentação delas cálcio, vitamina D e fibras. A conclusão é de um grande estudo recém-concluído que mapeou o que as crianças realmente ingerem dos alimentos oferecidos a elas na escola e em casa. Os pesquisadores analisaram o que lhes é servido na merenda escolar e o que elas deixam no prato. Também perguntaram aos pais o que elas consumiram em casa na noite anterior à entrevista. Chamado de Nutri-Brasil Infância e realizado com patrocínio da indústria de alimentos Danone, o trabalho avaliou 3.111 crianças matriculadas em creches e pré-escola da rede pública e particular de nove Estados brasileiros.

De um lado, o estudo trouxe algumas boas notícias. "Praticamente não há desnutrição nessa faixa etária", diz o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, coordenador do levantamento. Porém, ele mostrou uma realidade inquietante: as crianças brasileiras, de norte a sul do País, costumam deixar no prato a maior parte das frutas, legumes e verduras e dão preferência a alimentos como arroz, feijão, macarrão e biscoitos. "O que elas comem garante um bom aporte de energia, mas não oferece o que precisam para um desenvolvimento adequado. É o que se chama de fome oculta", diz a nutricionista Rosana Farah, da Universidade São Camilo, responsável pelo trabalho em São Paulo.

A garotada prefere alimentos ricos em calorias. Gosta mais de macarrão, arroz e feijão do que de frutas e verduras

A principal lacuna na dieta é o cálcio, imprescindível para a saúde dos ossos e dos dentes. Cinqüenta e sete por cento dos pequenos entre quatro e seis anos ingerem menos do mineral do que deveriam. Suas melhores fontes são o leite e derivados. Outra ausência é a vitamina D, que promove a absorção do cálcio. Quando essas duas falhas se combinam, o resultado é o atraso no crescimento, cujo impacto já se faz sentir em 5% das crianças avaliadas.

O reduzido aporte de fibras é outro problema e afeta 95% daqueles com quatro a seis anos. Nas menores, o índice chega a 77%. Sua maior fonte no cardápio infantil é a sopa, mas o certo é que fossem frutas e verduras. A curto prazo, a ausência de fibras prejudica a atividade intestinal. Mas ela é importante para o controle do colesterol, prevenção da diabete e de tumores de intestino. Por fim, a pesquisa revelou que os pequenos comem três vezes mais sal do que poderiam. "Em vez de 1,8 a dois gramas, ingerem cerca de seis gramas", diz Rosana. As conseqüências já aparecem. "Em alguns lugares temos três vezes mais crianças com alterações de pressão arterial do que a média de 1% esperada", diz Fisberg.

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Na opinião do médico Neylor de Oliveira, da Sociedade Brasileira de Pediatria, a recusa das crianças em comer frutas, verduras e legumes tem raízes em casa. "Em geral, elas consomem tudo misturado. Como não conhecem o sabor desses alimentos, os recusam", diz. É o que faz Mateus, seis anos, de São Caetano (SP). A mãe, Marisa Mariano, briga muito para que coma vegetais. "Se eu deixasse, ele comeria apenas macarrão e leite com chocolate", conta.

A saída é oferecer frutas e legumes para a criança degustar desde cedo. Foi o que fez Priscila Silva, mãe de Virginia, seis anos, de São Paulo. Hoje, a menina adora saladas e frutas. "Ela provava os vegetais desde bebê e tomou gosto. Já precisei dizer que só daria a salada de sobremesa, depois que comesse arroz, feijão e frango", conta Priscila.

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FOTOS: ROGÉRIO ALBUQUERQUE/AG. ISTOÉ ; MURILLO CONSTANTINO/AG. ISTOÉ


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