O escândalo envolvendo o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, acusado de favorecer a namorada com aumentos salariais generosos, provocou um certo regozijo em muita gente no Brasil – uma espécie de “silêncio sorridente” entre nós, parafraseando Caetano Veloso e Gilberto Gil. Afinal, mazelas que parecem exclusivamente brasileiras existem em todos os cantos do mundo. Não estamos sozinhos na desgraça. A reação desses brasileiros é compreensível. O Banco Mundial vive a ditar regras sobre como os países devem fazer isto ou aquilo. A instituição é uma fonte permanente de críticas contra desmandos com o dinheiro público. Certa vez, o próprio Wolfowitz afirmou que para se acabar com a pobreza era necessário acabar com a corrupção. Logo ele, Wolfowitz, o falcão republicano defensor público da moral e dos bons costumes, cede à mais antiga tentação da história da humanidade. Realmente, é quase impossível não sentir uma ponta de prazer ao vê-lo enredado nesse roteiro.

Uma satisfação ilusória, diga-se. Primeiro porque pode criar um ambiente do tipo “se ele pode, eu também posso”. Segundo, porque, lá, Wolfowitz saiu a público com pedidos de desculpa e nem isso evitou que seu emprego entrasse na linha de tiro. É um avanço em relação ao que se vê por aqui, com políticos apanhados em flagrante e negando o que todos viram. Terceiro, e talvez mais importante: estudos do próprio Bird indicam que há uma relação direta entre o nível de corrupção de governos e o crescimento da renda de sua população. Quanto mais transparente a gestão do dinheiro público, melhor será o nível socioeconômico das pessoas. Assim, não é hora de regozijo e, sim, de choro. Resumindo, e novamente apelando para um poeta, desta vez John Donne: “Não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.”