Pelo esporte e pela política, o Brasil vive hoje sob o embalo das torcidas. Uma delas, naturalmente mais patriótica e generalizada, anseia a vitória da seleção na Copa do Mundo que se aproxima. E a outra, firmemente plantada no mercado e em setores da produção, almeja a derrota da presidenta Dilma nas eleições que ocorrem logo após os jogos. Mesmo em campos distintos de interesse – e não necessariamente excludentes entre si –, essas torcidas se movem e são alimentadas pelo crescente clima de expectativa com os eventos que se aproximam. O levante político, expresso em rodas de conversa e encontros setoriais – e mesmo através de indicadores como o da bolsa, que sobe a cada pesquisa informando queda de aprovação da pré-candidata –, tem, na verdade, um componente muito menos personalizado do que se imagina. A grita não é, dizem esses torcedores, contra a figura pessoal da presidenta propriamente dita e sim contra o seu modelo de governo. Há uma visível e amplificada inquietação com a paralisia do Estado, com o descontrole dos gastos públicos e da inflação, com o despreparo dos quadros ministeriais, com a falta de regras claras e de planejamento de longo prazo. Existe ainda um sentimento de indignação, em diversas camadas sociais, com as mazelas, os esquemas ilegais e desvios de toda ordem que vêm marcando o aparato estatal. Nesse caldeirão de emoções e insatisfações esquenta o pedido por mudanças. O desejo da turba, já demonstrado inclusive nas manifestações de rua, é que o próximo mandatário, seja ele quem for, rompa com tudo isso que está aí e inicie uma gestão mais transparente e menos tolerante aos desmandos e malfeitos. Preservando conquistas, mas estimulando avanços e descartando de vez grupelhos que aparelharam podremente o Estado. Dilma, Aécio e Campos, cada um a seu modo, encaram um imenso desafio: eles precisam apresentar a plataforma de transformações para um novo Brasil, mais moderno e em sintonia com a lisura administrativa esperada. De seu lado, a presidenta tem a difícil tarefa de convencer que muita coisa será diferente em um eventual segundo mandato. Seus dois adversários vão, por sua vez, precisar mostrar alternativas e como pretendem guiar o País para tirá-lo da segunda divisão das nações. A torcida brasileira ainda está na retranca, mas dará o tom de seu apoio logo que perceber qual deles tem a melhor tática de jogo. 


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