A relação entre o estresse e a infertilidade sempre intrigou médicos e pacientes. Afinal, qual é o peso da tensão no processo que dificulta ou impede uma gestação? Pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, apresentaram as primeiras respostas a essa questão. Em um estudo divulgado pela revista científica “Human Reproduction”, eles apontam que as mulheres com altos níveis da enzima alfa-amilase – indicador biológico do estresse encontrado na saliva – possuem 29% menos chances de engravidar a cada mês em comparação àquelas com baixas concentrações da substância. Elas também estão duas vezes mais próximas de serem enquadradas na definição de infertilidade (não conseguem engravidar após um ano de tentativas) do que as menos estressadas.

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SUCESSO
Carolina tentou engravidar durante três anos. Ansiosa, não conseguia.
Depois da compra de Rocky, reduziu a tensão e hoje espera Mariana

Os cientistas avaliaram 501 voluntárias com idades entre 18 e 40 anos que tentavam engravidar e não apresentavam limitações clínicas ligadas à fertilidade. O acompanhamento se estendeu por 12 meses ou até as mulheres engravidarem. “Pela primeira vez, mostramos que o efeito do estresse é significativo”, afirmou Courtney Lynch, coordenadora da pesquisa.

Os processos pelos quais a tensão prejudica a possibilidade de gravidez estão sob estudo, mas há alguns mecanismos descritos. Um deles é sua consequência negativa para o amadurecimento e transporte do óvulo até o local onde poderia ser fecundado pelo espermatozoide. “O estresse também desencadeia a produção de enzimas que fazem com que o útero não possibilite o desenvolvimento da gestação”, explica o médico João Ricardo Auler, diretor médico da clínica Pró Nascer, do Rio de Janeiro. “Porém, o impacto é maior nas mulheres que estão em tratamento de fertilização, sujeitas a um nível de estresse semelhante ao de mulheres com diagnóstico de câncer”, afirma o especialista Isaac Yadid, membro da Sociedade Americana de Fertilidade. Há outro prejuízo: o estresse propicia a liberação de hormônios que contraem a musculatura uterina e diminuem sua vascularização, podendo, em alguns casos, provocar parto prematuro. “Trabalhos científicos identificam a maior incidência de partos prematuros e bebês de baixo peso entre mulheres com uma rotina de vida atribulada”, confirma a ginecologista Fernanda Frossard, do Rio de Janeiro.

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O trabalho americano evidenciou a necessidade de apoio psicológico aos casais. “A maioria dos autores que estudam esse tema enfatiza a necessidade de uma abordagem psicológica nos serviços de reprodução assistida para trabalhar as tensões e frustrações advindas da infertilidade e do seu tratamento”, recomenda Paulo Gallo, professor de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A autora da pesquisa também enfatiza a importância do uso de métodos antiestresse por mulheres que tentam engravidar e, depois de seis meses, ainda não tiveram sucesso. “Elas devem reduzir seu nível de tensão com técnicas como a ioga ou a meditação”, afirmou Courtney à ISTOÉ.

A dermatologista Carolina Peçanha, 35 anos, encontrou outra saída para aliviar a tensão e engravidar – algo que estava tentando havia três anos, período no qual submeteu-se a cinco fertilizações in vitro e a duas inseminações artificiais. Carolina comprou um cachorro. Um mês de convivência com o animal – da raça Shih-tzu e chamado Rocky – reduziu seu estresse e finalmente a nova fertilização deu certo. “Agora espero a Mariana”, conta.