Presidente e CEO da Formula One Management, o britânico Bernie Ecclestone afirmou, há cinco anos, que a morte do brasileiro Ayrton Senna, em 1994, durante o Grande Prêmio de San Marino, foi benéfica para a Fórmula 1. Para o dirigente, o acidente que abalou o mundo trouxe maior visibilidade e publicidade à modalidade. “Ele era popular e muita gente que não conhecia soube da existência da Fórmula 1”, disse. No Brasil, porém, o vácuo deixado pela ausência de Senna – a quinta-feira 1º de maio marca os 20 anos da morte dele – fez o automobilismo engatar a ré. Estima-se que existem, hoje, cerca de 20 pilotos correndo fora do País, dez a menos do que há uma década. Foi nessa época, meados dos anos 2000, que a incubadora dos pilotos nacionais sofreu o maior revés. Sem o apoio de montadoras como Chevrolet, Ford e Renault, que patrocinavam categorias de fórmula, criou-se um hiato entre o kart e a Fórmula 3 Brasil, as duas únicas de formação de pilotos que restaram, tecnicamente distantes uma da outra. “Se a geração de pilotos, hoje, é menor em quantidade e menos talentosa, é por falta de investimento nas categorias de base”, diz Reginaldo Leme, jornalista especializado em esportes a motor.

abre.jpg

Com a ausência de estrutura no País, brasileiros passaram a fazer o be-a-bá da pilotagem no Exterior. Ainda adolescentes, optam por uma dura vida lá fora. “A gente começa a perder aí”, diz o empresário e dono de equipe Amir Nasr, tio de Felipe Nasser, o único talento nacional que, como piloto de testes da Williams, bate às portas da Fórmula 1. “Os europeus correm e voltam para a casa onde moram com os pais, estudam. O brasileiro lá fora abre mão de tudo e fica dividido. Por isso é importante ter categoria de base para o rapaz se formar como piloto e como pessoa aqui.” A trajetória de Felipe Fraga serve de exemplo. Pentacampeão de kart no Brasil, ele rumou para a Europa para correr de Fórmula Renault. Na França, aos 15 anos, passou a dividir uma casa com dois pilotos. “Não adiantava eu correr um ano de Fórmula 3 no Brasil, porque o carro é antigo e o nível dos pilotos lá fora é melhor”, diz. “Mas os caras que estreavam na Europa estavam com dois anos de treino à minha frente. Então, saímos muito atrás.” O paraense ficou um ano no Exterior, investiu R$ 1,2 milhão na temporada, concluída por ele na sexta colocação. Hoje, aos 18, corre na Stock Car, categoria de turismo que está salvando o automobilismo nacional, com quatro ex-pilotos de Fórmula 1 em suas fileiras, mas sem tradição como formadora de novos nomes.

Neto de Emerson, Pietro Fittipaldi fez apenas uma corrida de kart no Brasil. Sua formação foi realizada nos Estados Unidos, onde mora, e correu na Nascar. Aos 17 anos, ele está na Fórmula 4 Renault europeia. Já o filho de Nelson Piquet, Pedro, de 15, preferiu passar pela Fórmula 3 Brasil. Para o bicampeão Emerson, deveria haver, depois do kart, uma categoria de turismo e outra fórmula de baixo custo. “São necessárias para dar chance de surgir talentos sem poder aquisitivo”, diz ele. “Quanto mais pessoas competindo, maior a chance de saírem bons pilotos. É da quantidade que se extrai qualidade.” Hoje, apesar dos esforços da Confederação Brasileira de Automobilismo em turbinar a participação no kart, há cerca de 30% menos carros perfilados no grid dessa categoria que há dez anos. Mais: no ano passado, o campeonato de Fórmula 3 Brasil terminou a temporada com oito carros, metade dos que iniciaram.

01.jpg

A Argentina poderia servir de exemplo para o Brasil. Lá, uma política de incentivo fiscal faz com que as montadoras destinem um percentual do faturamento para o desenvolvimento do esporte a motor. Por aqui, segue a procura por um novo Ayrton Senna. Essa pressão colocou contra a parede uma geração talentosa – Rubens Barrichello, Cristiano da Matta e Felipe Massa, só para citar três pilotos – que não conseguiu quebrar o jejum de título brasileiro na Fórmula 1, que já dura 23 anos desde que Senna conquistou o tri, em 1991. “É com essa pressão que muitos jovens começam a acelerar. Ficamos 24 anos sem um Mundial no futebol esperando um novo Pelé. Não vai haver um próximo Ayrton Senna”, diz Nasser.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Fotos: Schlegelmilch/Corbis; Divulgação; Diego Azubel/EFE; Waldemir Filetti/AG. ISTOÉ


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias