Até o início de abril, o principal desafio do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha para se viabilizar como alternativa petista ao governo de São Paulo era se tornar conhecido no maior colégio eleitoral do País. Aos 42 anos, ele jamais disputou uma eleição. Não pediu voto sequer para síndico de condomínio, mas foi alçado ao posto de pré-candidato a governador pelas mãos do ex-presidente Lula, que em 2012 conseguiu, em situação semelhante, eleger prefeito de São Paulo o até então desconhecido Fernando Haddad. Nas últimas semanas, Padilha passou a enfrentar outro problema. Ele é apontado pela Polícia Federal como suspeito de ter ligações com o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato e responsável por uma lavanderia que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões. Segundo sugere o relatório da PF, o ex-ministro teria indicado um ex-assessor, Marcus Cezar de Moura, para ocupar um posto executivo no laboratório Labogen, um dos braços do esquema de Youssef, que tinha interesses no Ministério da Saúde, intermediados pelo ainda deputado André Vargas (PT-PR). “Não tenho nenhuma relação com Youssef, não indiquei ninguém para laboratório nenhum e recebi o deputado André Vargas em audiências oficiais, cumprindo o papel de ministro”, disse Padilha à ISTOÉ na quinta-feira 24. Segundo ele, o laboratório Labogen não recebeu nem um centavo do Ministério e os entendimentos que vinham sendo mantidos foram cancelados logo que o esquema comandado pelo doleiro foi descoberto. No PT há a preocupação de que as suspeitas vazadas pela Polícia Federal possam comprometer a campanha do ex-ministro exatamente quando ele busca reconhecimento. O temor é o de que o pré-candidato perca muito tempo tendo de dar explicações relacionadas a esquemas de corrupção no momento em que precisaria aliar seu nome ao programa Mais Médicos, o que, avaliam os petistas, lhe trará uma visibilidade positiva.

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TURBULÊNCIAS
Ex-ministro da Saúde faz campanha a bordo da Caravana Horizonte Paulista.
Visitas ao interior do Estado ocorrem em meio a suspeitas de corrupção

Na quinta-feira, quando a denúncia da PF se tornou pública, Padilha estava em Bauru, a cerca de 350 quilômetros de São Paulo, cumprindo a nona etapa da Caravana Horizonte Paulista. Foi assim que o pré-candidato batizou sua estratégia em busca de conhecimento. Trata-se, na prática, da união de duas formas vitoriosas de campanha. Como fez Obama nos Estados Unidos, Padilha percorre o Estado a bordo de um ônibus especialmente preparado, uma espécie de comitê sobre rodas ao custo de R$ 600 mil. Batizado de “Buzão do Padilha”, o veículo, que tem pintada uma enorme estrela do PT, possui 12 poltronas semileitos, três mesas de reunião, dois aparelhos de tevê, geladeira, cafeteira, banheiro e um closet, onde o candidato guarda pelo menos três mudas de roupas. No “Buzão do Padilha” existe uma dezena de tomadas para que aparelhos eletrônicos como celulares, tablets, impressoras, roteador de wi-fi e microcomputadores não saiam do ar. O ônibus está equipado com uma antena que o mantém conectado o tempo todo com um satélite. Na estrada, quando não está reunido com assessores e líderes políticos, Padilha usa a internet para conversas em tempo real com os eleitores. Assim, o ex-ministro repete em São Paulo o que o ex-presidente Lula fez no Brasil com as chamadas Caravanas da Cidadania. “Nosso objetivo é escutar os mais diferentes pensamentos, ideias e propostas, de gente de qualquer partido ou credo, para formatarmos um programa suprapartidário para o Estado”, diz Padilha.

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As caravanas de Padilha tiveram início em fevereiro, já percorreram mais de sete mil quilômetros e passaram por 131 cidades. O pré-candidato, ao contrário do que é tradicional nas campanhas petistas, não vem buscando sindicatos e nem grandes eventos populares. Padilha tem privilegiado encontros com associações comerciais, empresários e lideranças ligadas ao agronegócio, principalmente em cidades comandadas por partidos adversários. “Quero fazer uma campanha que vá além do PT”, diz o ex-ministro. No partido, as jornadas de Padilha pelo interior são chamadas de “Padilhando”. Agora, diante dos ataques que vem sofrendo, o pré-candidato deverá contar com uma participação mais constante e efetiva do ex-presidente Lula em seu ônibus. Nos bastidores, Padilha trabalha para se desvincular do deputado André Vargas, até aqui o responsável por colocar líderes petistas ao lado de um doleiro preso.

Fotos: PAULO PINTO/ANALITICA