Só Freud explica o fascínio que as aeronaves exclusivas, os jatinhos, exercem sobre políticos brasileiros. É um encantamento de ordem sexual, que faz com que o passageiro se sinta acima e mais poderoso do que o comum dos mortais. Uma questão fálica, um fetiche. Só recorrendo à psicanálise é possível entender por que homens públicos de carreiras promissoras coloquem tudo a perder a troco de algumas horas de voo sem a companhia de desconhecidos.

O último a cair em tentação foi André Vargas. Depois de 14 anos como parlamentar, o político havia chegado quase ao topo da carreira política. Era vice-presidente da Câmara dos Deputados e tentaria concorrer ao Senado, em 2014. Seu sonho, declarado, era o de presidir o Senado. Virou pesadelo quando se descobriu que ele e a família foram de Londrina (PR) a João Pessoa (PB) num jatinho tomado de empréstimo junto ao doleiro Alberto Youssef. Uma viagem, diga-se de passagem, totalmente desnecessária, posto que suportável na aviação comercial – menos de seis horas de trajeto, com apenas uma escala.

Antes dele, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), levou amigos a um jogo da Seleção Brasileira num jato da FAB. Seu colega no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi a um casamento. Quando descobertos, decidiram devolver os recursos, desembolsando muito mais do que teriam gasto na aviação comercial.

A grande questão é: por quê? Que sensação é essa que um jato produz? Eu tenho, você não tem? 
Não por acaso, o Brasil se transformou num dos maiores mercados para a aviação executiva no mundo. E não necessariamente porque os donos desses aviões precisem dos brinquedos – caros para comprar e também para manter – para suas viagens particulares. Na realidade, o que interessa a empreiteiros, doleiros, financistas e muitos outros donos de aeronaves é usá-las como instrumento de lobby e de favor. Uma espécie de pé-de-cabra para abrir portas no mundo político.

Quem se submete a isso, seja por status ou por fetiche, corre o risco de sair da política pela porta dos fundos. 

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