Nos últimos tempos o Brasil exibiu desvios invulgares de rota em um ambiente de instituições que sempre prezaram pelo profissionalismo e pela eficiência. A série perversa de ataques contra patrimônios nacionais como Ipea, Petrobras, Eletrobras e IBGE parece não ter fim. E se dá de maneira diversa por obra de interesses políticos espúrios, quase sempre. Os enredos misturam desde interferência indevida em decisões técnicas até esquemas suspeitos por trás de compras notoriamente superfaturadas. De uma maneira ou de outra, esses verdadeiros ícones do capitalismo nacional, respeitados em todo o mundo, tiveram seus nomes arrolados em histórias, no mínimo, pouco edificantes e mal explicadas, dado um fenômeno que não é novo por essas bandas, mas que assumiu proporções insustentáveis e agora apresenta um alto preço: o aparelhamento do Estado. O avanço partidário e sindical na máquina estatal é o câncer que está minando a confiança e a reputação do trabalho dessas organizações. Uma decisão inconsequente e populista de baixar tarifas de energia, deixando uma conta rombo de mais de R$ 20 bilhões a ser paga lá adiante (depois das eleições), minou parte das forças da Eletrobras e deu o tom de uma prática recorrente nas administrações petistas. O mesmo mal levou o Ipea a uma encruzilhada: seguir na função, exercida há quase meio século, de órgão planejador da economia ou enveredar pelo campo das políticas públicas de maneira distorcida para atender a interesses oficiais? E o que dizer da Petrobras envolta agora em uma CPI para investigar seus contratos? O IBGE, que enfrentou um levante de técnicos na semana passada – com direito a pedidos de demissão e protestos – contra a aberração de suspeitas do governo sobre suas pesquisas, é o mais novo alvo. Não há dúvidas na população sobre a importância, o prestígio e a força dessas instituições. Mas nas mãos dos governantes elas vêm sofrendo além do razoável. O patrimonialismo e o fisiologismo estão agora inseridos em suas entranhas de tal maneira que os limites entre o público e o privado se confundiram perigosamente. É fundamental interromper esse processo com a depuração das más influências e o resgate da excelência profissional e da expertise, que levaram décadas para se firmar. 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias