Com exceção feita ao Rio de Janeiro, onde o crime organizado se instalou há décadas e tem tentáculos espalhados por todo o País, a história recente mostra que qualquer governador, aliado ou opositor do governo federal, procura ao máximo evitar a interferência das forças nacionais em seus territórios. Para os políticos, esse tipo de intervenção é praticamente um atestado de incapacidade para enfrentar os problemas de segurança pública, missão constitucionalmente entregue aos governos estaduais. Na noite da terça-feira 15, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), fugiu a essa regra. Minutos antes de uma assembleia de policiais militares aprovar uma condenável greve, Wagner fez contato com o Palácio do Planalto e com os Ministérios da Defesa e da Justiça para pedir que tropas do Exército e da Força Nacional fossem deslocadas à Bahia com o propósito de garantir a segurança da população. Na manhã da quarta-feira 16, a presidenta Dilma Rousseff assinou o decreto de Garantia da Lei e da Ordem, que permite às Forças Armadas atuar na segurança pública da Bahia. Com isso, os militares ficam autorizados a fazer patrulhamento, vistorias e prisões em flagrante. O decreto é o atestado de que a gestão de Wagner, já no último ano de governo, não foi capaz de oferecer segurança aos baianos.

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SEM HABILIDADE
Jaques Wagner (acima) afirma que a greve é política, mas, em assembleia,
policiais dizem que são enrolados há dois anos pelo governador e o
movimento pode se espalhar por outras categorias do funcionalismo

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A rapidez com que o governador admitiu a falta de controle sobre a Polícia Militar não impediu que o povo baiano vivesse momentos de terror. Nas primeiras 24 horas de greve foram registrados nove homicídios em Feira de Santana, dezenas de supermercados e lojas de eletrodomésticos de Salvador e de cidades do interior foram saqueadas. Houve arrastões em alguns bairros da capital. Com medo de depredações, as principais empresas de transporte público recolheram os ônibus deixando a população sem ter como ir e voltar do trabalho. Boa parte dos bancos fechou as portas e há registros de depredações em algumas agências. As escolas públicas e privadas, bem como as faculdades, cancelaram as aulas e avisaram aos alunos que só voltam a funcionar na terça-feira 22. “Precisamos nos empenhar para que pelo menos os serviços essenciais sejam assegurados”, disse o prefeito de Salvador, ACM Neto, mas até a Guarda Municipal tinha medo de ir às ruas. Por volta das 16h30 da quarta-feira 16 começou a desembarcar em Salvador parte dos seis mil militares que irão assumir o papel da PM, sob o comando do general Racine Bezerra Lima. Os soldados foram deslocados de Aracaju, Fortaleza, Recife e São Paulo. “Permaneceremos nas ruas e mantendo a ordem até o governo e a PM entrarem em acordo”, disse o general.

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VIOLÊNCIA E INTERVENÇÃO
Sem polícia nas ruas, bandidos saquearam diversos supermercados
e o Exército precisou ocupar as ruas para cumprir uma
missão que deveria ser exercida pelo governador

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O governador se diz traído pelos policiais e afirma que a greve é política. Segundo ele, as negociações estavam em andamento e o governo havia aceitado o que queriam os PMs. Não é a versão dos policiais (leia quadro abaixo). “Essa greve tem caráter político, porque está sendo conduzida por dois candidatos de oposição”, disse Wagner. De fato, dois dos principais líderes do movimento são candidatos. Marco Prisco, presidente da Associação de Policiais e Bombeiros e de Seus Familiares, é candidato a deputado estadual pelo PSDB e Capitão Tadeu é candidato a deputado federal pelo PSB.

O problema do governador, porém, não é definir se a greve é ou não política. O que o movimento evidencia é uma absoluta falta de habilidade em negociar com o funcionalismo. Desde 2012, quando os policias fizeram uma greve que durou dez dias e deixou um saldo de 120 mortos, Wagner vem negociando com os policiais sem chegar a nenhum acordo. “São dois anos de pura embromação e isso não ocorre apenas com os policiais”, diz Prisco. Na noite da quarta-feira 16, outras categorias do funcionalismo ameaçavam aderir ao movimento dos PMs.

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Se para o governador falta habilidade na condução das negociações com o funcionalismo, para os policiais falta amparo legal ao movimento. O Tribunal de Justiça decretou a greve ilegal, pois, no entender dos desembargadores baianos, contraria dispositivo constitucional. Enquanto o impasse não se resolve, as Forças Armadas permanecerão nas ruas da Bahia.  


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