CRIAÇÃO O pintor Henri Matisse, no traço de Caulos (à dir.)

Se fosse para defini-lo ao estilo de seus livros, o texto teria poucas e curtas frases, o suficiente para que o essencial ficasse bem claro. No caso, bastaria dizer que Caulos é uma criança, embora tenha nascido em 1943. Na hora em que foi batizado, na cidade mineira de Araguari, alguém avisou que o nome era Luis Carlos Coutinho, mas o aviso não foi respeitado e o garoto virou Caulos para sempre. No Rio de Janeiro, onde vive, ele começou a trabalhar com desenhos de humor e descobriu algo muito sério: "Artistas são pessoas que nunca abandonam a infância." Bingo! Isso explica por que Caulos, que passou a dedicar-se à pintura na década de 80, assina uma das mais bonitas coleções de livros dedicadas às crianças, a Pintando o Sete, da editora Rocco. Em suas edições, a informação e a brincadeira andam de mãos dadas enquanto o pequeno leitor fica sabendo um pouco sobre a vida e a obra de alguns dos maiores nomes da arte mundial. O primeiro livro foi O jardim de infância de Matisse, seguido por O segredo de Magritte, ambos lançados no ano passado. Agora, acaba de chegar às prateleiras Mondrian, o holandês voador e em julho será a vez de Seurat e o arco-íris.

SURREAL Ilustração do livro O segredo de Magritte

A sua tese é a de que o desenho sempre vai conservar algo de infantil e que ninguém se engane, mesmo quando vir um trabalho do gênio renascentista italiano Michelangelo, cuja obra "dá a impressão que é séria". O livro sobre o francês Henri Matisse, por exemplo, trata exatamente disso. "Eu quis mostrar para a criança que um artista tão importante se inspirava no desenho infantil, o único que tem espontaneidade", diz Caulos. Nesses livros, ele refuta o formato tradicional da biografia, no qual se conta tudo o que o biografado fez até chegar ao ponto a que chegou. Evita também ensinar o pequeno leitor a "olhar" a arte. "Minha idéia é mostrar que o artista é como toda criança que desenvolveu um talento. Gostaria que, após ler, ela soubesse olhar aquela pintura como olha o próprio desenho", diz ele. Caulos é autor de um clássico infantil, A última flor amarela, indicado como "altamente recomendável" pela Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil. Mas há outros, como Vida de passarinho e o belíssimo Só dói quando eu respiro, libelo ecológico lançado há 30 anos – todos de desenhos e editados pela L&PM. Seu atual projeto era de um livro só, sobre René Magritte, "mas a editora Ana Martins (do selo Rocco Jovens Leitores) sugeriu que fosse uma coleção", diz ele. Ao final, a série completa de sete livros deverá ser comercializada também em uma caixa especial. Para o Brasil, onde os poucos museus têm grandes lacunas em seus acervos, a coleção é um presente para pais e filhos: "Falei sobre Magritte num evento em uma livraria e percebi que 90% dos pais presentes não tinham a menor idéia sobre ele." Se o cenário é desanimador para os adultos, não precisa ser igual para a garotada. "A criança está no mundo para aprender", diz Caulos. Têm sorte as que tiverem acesso a bons livros como esses.

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