Quando soube do valor cobrado pela camisa oficial que sua seleção irá vestir na Copa do Mundo, que começa em junho, no Brasil, a ministra dos Esportes da Inglaterra, Helen Grant, levou um susto e desabafou no Twitter. “O preço de 90 libras (R$ 333,19) não está certo. Torcedores fiéis são o alicerce de nosso jogo. Esse custo precisa ser repensado”, escreveu ela, que recebeu apoio imediato do primeiro ministro britânico David Cameron, igualmente revoltado com o alto valor da peça. Se eles, entretanto, fossem comprar o mesmo produto no Brasil, ficariam mais irritados ainda, porque gastariam R$ 16,71 a mais. Aqui, camisa oficial de qualquer seleção não sai por menos de R$ 199,90, segundo os sites de vendas das principais fornecedoras de material esportivo. A da brasileira custa R$ 349,90, mesmo valor cobrado pelas de Portugal, Holanda, França e Inglaterra. Mas o troféu exagero é arrebatado, de longe, pela peça da seleção italiana: lá, 180 euros (R$ 549,68); aqui, R$ 499,80.

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ELENCO
Jogadores da seleção inglesa com o uniforme oficial do time, cuja camisa custa R$ 333,19:
ministra do Esportes disse que esse preço precisa ser repensado

Mas por que custam tão caro? Especialistas divergem. Segundo o coordenador de MBA Estratégico em Ciência do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro (ESPM Rio), Eduardo França, “são edições de roupas produzidas especialmente para a Copa do Mundo” e “a enorme procura tende a elevar os preços”. O especialista em marketing esportivo Celso Forster aponta a falta de concorrência como responsável. “São apenas três empresas que dominam o mercado. As peças têm alta tecnologia, design, valor agregado, mas nada justifica o preço tão alto”, afirma Forster. O diretor de comunicação da Nike do Brasil, Alexandre Alfredo, disse à ISTOÉ que, no caso da camisa brasileira, foi usado o que existe de mais avançado em tecnologia e inovação em produtos esportivos. “Pela primeira vez, a camisa oficial de jogo levou em conta o biotipo do jogador brasileiro. Vários tiveram as formas escaneadas para permitir um caimento perfeito do uniforme”, afirmou.

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POSE
Parte do time brasileiro se exibe com a camisa oficial de R$ 349,90:
falta de concorrência e alta tecnologia explicariam o valor alto

Segundo Alfredo, também foi usada a tecnologia Dri-Fit, que extrai o suor do corpo para fora do tecido, evitando que a camisa fique encharcada e mais pesada. Além disso, a temperatura do corpo, medida em testes que indicaram as áreas de maior aquecimento quando em movimento, é regulada por zonas de ventilação. “Essas áreas são compostas por pequenos furos cortados a laser, que vão das axilas até o quadril, e garantem que o ar circule para manter o conforto”, disse o executivo. Mas, para o torcedor, é necessária tanta tecnologia? Alfredo reconhece que não e diz que há uma alternativa. “A camisa ‘versão torcedor’ custa R$ 229,90”, diz ele, como se esse valor fosse barato. Para a grande maioria dos fãs de futebol, ainda é um preço alto.

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David Cameron apoiou sua ministra dos Esportes e pediu que
o preço da camisa oficial da Inglaterra fosse repensado

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O professor Eduardo França, da ESPM, diz que investimentos em novas tecnologias e tecelagens diferenciadas não pretendem apenas melhorar o desempenho dos atletas em campo. Fazem parte da estratégia das empresas para manter a competitividade da marca. “A Nike e Adidas são as duas grandes concorrentes. Elas praticamente dividem o segmento; cada uma tem entre 35% e 40% do mercado mundial”, afirma França. Fora dos campos, de futebol ou comercial, como estão reagindo os consumidores? Segundo Alfredo, da Nike, esses números não podem ser revelados, mas ele garante que “as expectativas estão sendo superadas”. Profissionais do setor fazem uma aposta: os torcedores vão acabar comprando camisas falsas, em camelôs e lojas populares, com preços bem inferiores. E vão torcer para que o uniforme high-tech ajude a seleção canarinho a levantar o caneco, mesmo sabendo de cor e salteado uma das máximas do futebol: camisa não ganha jogo.

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Foto: AP Photo/Sang Tan


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