A vez das mães quarentonas

DEDICAÇÃO Eliane insistiu nos tratamentos até ficar grávida de João Antônio

Elas estão na faixa dos 40 anos e, por vários motivos, adiaram o sonho de ter um filho. Mas o desejo agora é mais forte do que tudo e, para realizá-lo, vale até enfrentar os riscos e limitações que a idade impõe.

Aos 27 anos, a probabilidade de engravidar naturalmente em uma relação sexual começa a cair. E, a partir dos 40, essa chance cai para 5%. A saída, portanto, são as técnicas de reprodução assistida para a gestação e, depois, o acompanhamento da gravidez por especialistas. Há duas ou três décadas, muitas dessas tentativas poderiam ser consideradas aventuras. Mas hoje, com as descobertas mais recentes, a medicina dispõe de um arsenal de técnicas sofisticadas para apoiar as mulheres e transformar a busca da maternidade em um caminho mais seguro. “Existem tratamentos personalizados e exames para garantir que o bebê venha com saúde perfeita”, garante o especialista Roger Abdelmassih, de São Paulo, dono de uma clínica de reprodução assistida que já contribuiu para o nascimento de cerca de seis mil bebês.

Os recursos disponíveis nas clínicas de medicina reprodutiva vão desde o simples coito programado, em que o médico monitora com exames de ultra-som o dia mais adequado para a relação sexual, até métodos mais complexos. Um deles é a fertilização in vitro, a FIV, que recria no laboratório as condições ideais para a fecundação do óvulo (leia detalhes no quadro). Uma das técnicas mais usadas, a FIV tem passado por mudanças importantes. Uma delas é o aperfeiçoamento dos remédios para induzir a ovulação na mulher, hoje mais eficiente e com efeitos colaterais reduzidos. “Isso aumenta muito as chances de gravidez”, garante Artur Dzik, da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida. Outro avanço é a ampliação do uso da injeção intracitoplasmática de esperma, a ICSI, em que um único espermatozóide é injetado no núcleo do óvulo em laboratório. Antes usada apenas nos casos em que o espermatozóide tinha dificuldade de chegar ao interior do óvulo, hoje essa “carona” induzida virou rotina.

arquivo pessoal

SORTE Monique engravidou no início

Mas os avanços só produzem resultados quando aliados ao acompanhamento da gravidez e à disciplina da mulher. A executiva de vendas Eliane Maria Braz, 43 anos, passou a juventude se dedicando aos estudos, à carreira e às viagens. Só começou a se preocupar com o assunto aos 39 anos, quando se casou. “Procurei ajuda ao perceber que não conseguia engravidar. Não foi tranqüilo. O primeiro tratamento, com um médico inexperiente, não deu certo. Só fui feliz com o segundo”, conta ela. Assim nasceu João Antônio, hoje com cinco meses.

A falta de informação também atrapalha. A maioria acredita que não precisará de ajuda médica, o que é um erro. A professora de educação física Monique de Assis, 40 anos, passou por isso. Tentou engravidar durante um ano e ficou surpresa quando o médico disse que suas chances eram mínimas por causa da idade. Mas não recuou. E sua coragem foi premiada pela sorte: na primeira tentativa, algo raro nesses tratamentos, ela conseguiu. Está grávida de sete meses. Até mesmo os recursos mais avançados são falíveis para controlar o grau de expectativa. “Até os 35 anos, as chances de engravidar com os métodos são de 40%. A partir daí, mesmo com os tratamentos, caem para 15%”, diz o ginecologista José Gonçalves Franco Júnior, presidente da Sociedade Latino-Americana de Reprodução Assistida.

fotos: Hélcio Nagamine

CUIDADOS Badi faz vários exames para monitorar a saúde do bebê

Os recursos para uma gestação tranqüila passam pelo acompanhamento rigoroso da gravidez. Normalmente, as pacientes seguem uma rotina de exames e avaliações para acompanhar o desenvolvimento do bebê, que pode ter, por exemplo, o crescimento interrompido. Além disso, os riscos de aborto espontâneo em gravidez a partir dos 40 anos são de 90%. Por isso, todo cuidado é pouco. A artista Badi Assad, 40 anos, no sétimo mês de gravidez, sabe bem a importância desses cuidados. Mensalmente, ela se submete a exames de sangue e ultra-som. “Sei dos riscos. Por isso sigo ao pé da letra as recomendações da médica”, afirma Badi. Entre outros cuidados, ela deu um tempo na carreira. Sofia chegará em julho. A partir daí, por umas boas semanas, cantar, só música de ninar para a sua pequena.

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