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Confira o trailer 

 

Parece que depois de quase destruir Nova York para mandar o deus malvado Loki de volta para Argard, em “Os Vingadores”, Steve Rogers nunca mais foi o mesmo.

O Capitão América (Chris Evans) volta em seu novo filme com suas certezas patrióticas abaladas, meio em crise, sem saber para que lado ir. Esse atordoamento ideológico, zeitgeist da Guerra Fria, que ecoa na atual indisposição política entre Barack Obama e Vladimir Putin, dá o tom aos primeiros diálogos de “Capitão América – O Soldado Invernal” e traz um herói menos crédulo e com humor suficiente para rir de si mesmo e até cantar de vez em quando a colega russa Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), ex-espiã da KGB.

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AMEAÇA VERMELHA
Ao lado da Viúva Negra, o herói do escudo indestrutível enfrenta o Soldado Invernal,
uma máquina de matar com uma estrela estampada no ombro mecânico

A mudança para pior do supersoldado é um alento. A Marvel segue a lógica dos quadrinhos, ao preservar a narrativa dos personagens entre um filme e outro. Mas este é um longa em que Steve Rogers já viveu tempo suficiente nos dias de hoje para se manter um gentleman dos anos 1940 que sonha em defender a pátria. Já um tanto descrente do mundo, o herói, criado por Jack Kirby e Joe Simon (em 1941, para combater nazistas) e retomado por Stan Lee duas décadas depois, descobre (não sem dor) que nem todo cidadão americano é confiável e que a S.H.I.E.L.D., agência a quem serve, pode estar sendo manipulada por um inimigo que ele já não sabe de que lado vem.

A aparição dramática do Soldado Invernal (vilão citado no título em português) tem muito do visual dos comics da Guerra Fria. Grande, descabelado, escondido atrás de uma máscara, o guerreiro com a estrela vermelha carimbada no ombro mecânico chega quebrando o que vê pela frente, como uma máquina de guerra. O mamute soviético teria sido o único soldado a acertar um tiro na infalível Natasha Romanoff, que levou a melhor até contra o Incrível Hulk, em uma de suas mais assustadoras aparições no cinema. Mas, ao sentir os passos do Soldado Invernal, a Viúva Negra treme inteira e busca abrigo sob o escudo estrelado de Steve Rogers. O clima entre os dois agentes da S.H.I.E.L.D, os diálogos espertos e a angústia compartilhada entre eles recuperam muito do interesse na leitura dos quadrinhos do tempo em que o mundo se sentia à mercê do apertar de um botão.

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PANCADARIA
No novo longa, o soldado não espera ser atacado para revidar
e parte para o confronto sem a complacência do filme anterior

Diferentemente do que se pode encontrar nas páginas de onde eles saíram, o longa, que tem ainda Robert Redford e Samuel L. Jackson no elenco, guarda poucas surpresas. O inimigo parece russo, ou melhor, soviético, mas, na verdade, é nazista, um cérebro alemão sem corpo que manipula o mundo por um sistema de computadores. E nisso reside uma questão histórica sem a qual não seria possível ter Stan Lee, papa dos comics, nos créditos. O Capitão América foi criado para lutar na Segunda Guerra Mundial. Dizem que Hitler achava o desenho bom e se irritava por ele pertencer ao outro lado. Com o fim da guerra, os criadores acharam que não fazia sentido continuar a saga que tinha seguido até então no front. E talvez tivessem razão. Mas em 1964 a Marvel resolveu reviver o cabo franzino que se torna indestrutível depois de servir de cobaia para um projeto de criação de superguerreiros. E o argumento foi a queda do avião que o teria mantido por duas décadas congelado nas profundezas do Atlântico Norte. O espanto do encontro com um mundo cínico 20 anos depois quase desaparece nessa continuação. Mas os valores do Capitão América permanecem intactos atrás do escudo estampado com a bandeira americana, nessa metáfora fora de época sobre a defesa da liberdade pelos americanos.

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Fotos: Divulgação