“O tribunal decide sentenciar Saddam Hussein al-Majid al-Tikrit a morrer na forca por crimes contra a humanidade.” Ao ouvir a sentença, lida pelo juiz curdo Raulf Abdel-Rahman no sábado 4, o ex-ditador iraquiano, segurando um exemplar do Alcorão e visivelmente nervoso, começou a berrar: “Alahu akbar!” (Deus é grande), “Longa vida ao Iraque!” Ele e outros três acusados foram condenados pelo massacre de 148 civis xiitas na localidade de Duhail, em 1982, numa represália a um atentado contra o então presidente iraquiano. A sentença foi pronunciada 11 meses depois do início de um processo polêmico, no qual morreram assassinadas nada menos que 11 pessoas, entre elas três advogados de defesa. A corte recusou um pedido de Saddam para que ele pudesse ser executado por um pelotão de fuzilamento – um tipo de morte considerado mais “digno” por códigos de honra militares, pois a forca é destinada a criminosos comuns.

Os advogados do ex-ditador acusaram o tribunal de pronunciar um veredicto político, ditado pelos Estados Unidos, que ocupam o Iraque desde 2003. A sentença ainda deverá ser confirmada por um tribunal superior, o que pode levar meses. Se o veredicto for rejeitado, Saddam, 69 anos, deverá ser julgado por várias outras acusações, como a limpeza étnica contra os curdos nos anos 80, com utilização de gás venenoso, a invasão do Kuait, seguida de repressão contra os xiitas em 1991 e os diversos assassinatos de opositores.

Dois dias depois, ao comparecer ao mesmo tribunal para um outro julgamento – o do massacre de dezenas de milhares de curdos –, Saddam mostrou-se surpreendentemente conciliador, conclamando “todos os iraquianos, árabes ou curdos” a se reconciliarem. A ironia é que, ao tentar salvar a própria pele, o ex-ditador vai ao encontro dos interesses de seus antigos aliados americanos. Pois se Saddam está com medo de morrer, a última coisa que os americanos precisam agora é de um mártir desse quilate no Iraque.


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