Os dias de angústia e incertezas desde que o Boeing 777, da Malaysia Airlines, desapareceu na madrugada do sábado 8 parecem não ter fim. A demora em se encontrar pistas da aeronave e o fato de o acidente ter ocorrido em uma região do mundo onde os países parecem não colaborar entre si só aumentam a aflição dos familiares das 239 vítimas, que acusam o governo malaio de omitir informações e ameaçam uma greve de fome. Isso ficou claro após a Tailândia revelar, só na terça-feira 18, que um radar militar detectou um avião que poderia ser o da Malaysia Airlines no mesmo dia do sumiço. No sudeste da Ásia, há diversos radares militares que poderiam ter captado o movimento da aeronave. Porém, na complicada geopolítica asiática, abrir essas informações significa revelar dados de segurança nacional ou mesmo uma deficiência nessa área. Isso atrasa as buscas nas quais 26 países estão envolvidos, com submarinos, satélites, aviões e navios.

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SEM SOLUÇÃO
O piloto Zaharie Ahmad Shah e o copiloto Fariq Abdul Hamid
são investigados. Abaixo, o desespero dos familiares

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Há duas prováveis rotas para o voo MH370: para o norte, cruzando vários países asiáticos, ou para o sul, no Oceano Índico. Sean O’Connor, ex-analista da Força Aérea americana e pesquisador em sistemas de defesa, disse ao jornal “The New York Times” que dificilmente a aeronave teria passado pelo norte sem ser detectada pelos radares militares. Mas, com as tensas relações entre as nações asiáticas, mesmo num caso dramático como esse, é possível que os países omitam informações. “Isso pode acontecer se o radar cobrir uma área não permitida ou se os dados revelarem uma estratégia”, diz o comandante Ronaldo Jenkins, diretor de segurança e operação de voos da Associação Brasileira das Empresas Aéreas. Para o piloto e especialista em acidentes aéreos Ivan Sant’Anna, ainda que os países decidam liberar as informações, eles demoram a fazê-lo justamente por questões de segurança nacional. “As nações dessa região não vão colaborar umas com as outras.”

Os radares militares funcionam como os civis. A diferença é que não recebem as informações iniciais de identificação de voos comerciais. “O controle de tráfego aéreo tem o plano de voo com os locais onde o avião vai sobrevoar e o código do transponder, para que seja reconhecido. Mas os radares militares não. Por isso, só conseguem perceber um objeto no ar”, explica Jenkins. Na quinta-feira 20, o governo australiano anunciou que satélites detectaram objetos no mar, a 2.300 quilômetros da costa australiana. Há a possibilidade de serem destroços do avião, mas até a sexta-feira 21 ainda não haviam sido encontrados – podem, inclusive, ter afundado. Se forem restos da aeronave, é o primeiro passo para tentar descobrir o que aconteceu e por que o avião tomou esse trajeto. Sabe-se que o voo MH370 mudou de curso intencionalmente e voou por sete horas até desaparecer por completo.

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As possibilidades de sequestro, terrorismo ou falha mecânica continuam sendo averiguadas. A Malásia pediu ajuda ao FBI para recuperar dados apagados do simulador do voo encontrado na casa do piloto Zaharie Ahmad Shah. Os outros 11 tripulantes e os 227 passageiros também passam por investigação. É possível ainda que alguma emergência, como uma pane elétrica seguida de incêndio, tenha feito o piloto mudar o curso do avião. Se a aeronave foi tomada por fumaça, todos ficariam desacordados e a aeronave poderia seguir em modo automático até cair, após o combustível acabar.

Foto: AP Photo