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A Polícia Federal estima que os doleiros e outras pessoas envolvidas com lavagem de dinheiro presas na Operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira, tenham movimentado mais de R$ 10 bilhões em suas atividades. Os recursos têm diferentes origens ilícitas, incluindo tráfico internacional de drogas, corrupção, extração e comercialização de diamantes, além de lavagem de dinheiro.

Segundo o delegado Márcio Anselmo, que coordenou a operação, quatro grandes doleiros foram presos hoje, incluindo Alberto Youssef, que tem a sua base em Londrina, no norte do Paraná, mas foi preso em São Luiz, no Maranhão. Ele já foi condenado por crimes contra o sistema financeiro nacional e foi alvo da Operação Farol da Colina, da própria PF, e da CPI do banco Banestado, o antigo banco do Estado do Paraná.

Cada doleiro preso representava um núcleo criminoso, ou seja, a operação de hoje prendeu quatro quadrilhas diferentes, que atuavam de distintas formas. Alguns doleiros faziam envios de remessas de dinheiro para o exterior legalmente e outros simulavam operações entre empresas de fachada de exportação e importação. Foram identificadas mais de uma centena de contas por onde estas remessas eram feitas, incluindo destinos como China e Hong Kong.

"Estes grupos vinham atuando no mercado paralelo de câmbio há cerca de 10 anos . Alguns utilizavam postos de combustíveis e lavanderias para lavar o dinheiro, mesclando com as atividades da empresa. Cada uma das quatro organizações criminosas tinha a sua particularidade e agia de uma forma", explicou. O delegado informou que não podia informar os nomes dos presos porque a investigação corre em segredo de justiça. "Somente um dos doleiros fez repassas ao exterior pelo câmbio oficial que chegou a R$ 250 milhões entre 2009 e 2013", contou.

A PF vai identificar quem eram os clientes dos doleiros, mas já detectou que um grupo tinha ligação com o tráfico de drogas e que outro trabalhava com dinheiro oriundo de desvios de recursos públicos. Neste caso, haveria o envolvimento de grandes empresas de engenharia, segundo Anselmo.

Segundo o delegado, os doleiros se aproveitaram de falhas do sistema financeiro nacional para praticar os crimes. Eles contavam com grandes estruturas para poder exercer a atividade, incluindo pessoas que faziam o transporte físico de grandes quantias de dinheiro. "O que chama atenção foi que muitos valores foram enviados pelo câmbio oficial, incluindo a transferência de valores entre empresas de fachada. Eles aproveitaram falhas no sistema para cometer os crimes", salientou.

Todas as contas que foram identificadas na movimentação foram bloqueadas e ainda podem apresentar um volume expressivo de dinheiro. Segundo Igor Romário de Paula, delegado regional de combate ao crime organizado, a operação focou nos crimes contra o sistema financeiro nacional e ficarão sob sua tutela as investigações sobre desvio de recursos públicos e casos de corrupção. As ligações com tráfico de drogas e extração ilegal de diamantes serão investigadas por outras delegacias da PF.

Balanço parcial divulgado pela PF na tarde de hoje indica a prisão de 24 pessoas, entre mandados de prisão preventiva e prisão temporária. Todos os presos serão encaminhados para a superintendência da PF em Curitiba. O Paraná concentra a operação pelo fato de terem sido detectados os primeiros indícios de movimentação destes grupos no Estado. As investigações duraram nove meses.

Houve ainda o cumprimento de 81 mandados de busca e apreensão e 19 mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para prestar depoimento). A operação ocorreu em municípios do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Santa Catarina, além do Distrito Federal.

A PF aprendeu R$ 5 milhões em espécie, além de jóias, relógios, carros (com valores acima de R$ 100 mil) e obras de arte. Três hotéis, cujos imóveis pertencem a envolvidos no esquema e que foram arrendados para as empresas hoteleiras, foram sequestrados pela Justiça. O montante final de apreensões ainda está sendo calculado e deve ser divulgado posteriormente.