Quem assistiu à disputa da semana passada entre o governo Dilma e sua base rebelada, liderada pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), saiu com a impressão de que o Palácio do Planalto perdeu de goleada. Diversos ministros foram convidados a prestar esclarecimentos no Congresso Nacional sobre os mais variados temas e um pedido de investigações sobre contratos internacionais da Petrobras também foi aprovado.

Derrota fragorosa do Palácio do Planalto? Nem tanto. Ou melhor, longe disso. Idas de ministros ao Congresso, além de rotineiras, são parte da democracia. E uma investigação sobre a Petrobras não tira o sono do governo Dilma nem da comandante da estatal, Graça Foster. Tanto é assim que não só a Polícia Federal abriu inquéritos sobre o caso como a própria estatal enviou executivos à Holanda para averiguar suspeitas de propinas pagas a funcionários da empresa. Aliás, não custa lembrar que a diretoria internacional da Petrobras é uma indicação do próprio PMDB.

Num jogo que parecia ter dois enxadristas, Dilma e Eduardo Cunha, a semana terminou melhor para ela do que para ele. Na reforma ministerial, Dilma indicou nomes do PMDB, mas todos de perfil técnico, sem ceder a pressões ou chantagens. Neri Geller, da Agricultura, é um exemplo disso. Embora filiado ao PMDB, foi sugerido pelo “rei da soja” Blairo Maggi, que fala pelo agronegócio. Vinícius Lages, do Turismo, tem o aval de Renan Calheiros e reforça a aliança de Dilma com o PMDB no Senado. Eduardo Cunha, por sua vez, terminou a semana assumindo o lobby das operadoras telefônicas na disputa do Marco Civil da Internet – que não foi e não será votado enquanto não houver um acordo que garanta pontos essenciais, como a neutralidade da rede.

No que mais importa na relação entre os dois partidos, que é a disputa pelo Palácio Guanabara, a trincheira mais importante do PMDB, Dilma sinalizou claramente que, se tiver de escolher entre o peemedebista Luiz Fernando Pezão e o petista Lindbergh Farias, que seria uma “invenção de Lula”, ficará com o primeiro.
Ou seja: num campeonato longo, de pontos corridos, e não mata-mata, Dilma não foi eliminada.
Ao contrário, ganhou pontos.