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Confira como os restos de malte são transformados em biobutanol

Produzir combustível a partir da matéria-prima de bebidas alcoólicas está se tornando uma tradição cada vez mais comum. Nos Estados Unidos, por exemplo, o milho, base da bebida mais tradicional do país, o Bourbon, é o responsável por dar ao país o título de maior produtor de biocombustível do mundo. No Brasil da cana-de-açúcar, matéria-prima da mais brasileira das bebidas, é feito o etanol que abastece milhões de carros pelo País. Agora a Escócia quer aproveitar os rejeitos na fabricação de sua mais tradicional bebida alcoólica, o uísque, para produzir combustíveis.

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MALTE
É a partir do bagaço  da principal matéria-prima  do uísque,
após a fermentação, que o biobutanol é produzido

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O projeto ainda está em fase de testes, mas já conseguiu resultados para lá de satisfatórios. Uma pequena empresa surgida na Universidade de Napier, em Edimburgo, conseguiu produzir biobutanol, uma variação ainda mais eficiente do etanol, a partir da fermentação do bagaço de malte utilizado para fazer uísque. Além de outras vantagens, o combustível não requer adaptação dos motores que rodam a gasolina para ser utilizado.

“Usamos subestratos de baixo valor e aplicamos uma técnica antiga de fermentação para produzir um combustível limpo e eficiente”, orgulha-se o diretor do Centro de Pesquisa em Biocombustíveis da Universidade de Napier e um dos fundadores da Celtic Renováveis, Martin Tangney.

O processo criado pela Celtic mistura o bagaço do malte – que chega a ser 80% do grão do malte – com um líquido residual liberado durante o primeiro processo de destilação, equivalente ao vinhoto, ou vinhaça, da cana-de-açúcar, que eles chamam de “pot ale”. Juntos, eles passam pela técnica a que Martin se refere, a fermentação ABE (que resulta em acetona, butanol e etanol).

“Há um potencial significativo nesse processo, pois o bagaço do malte para a produção do uísque é rico em endocelulose e lignina, e o líquido residual ‘pot ale’ é rico em leveduras, proteínas, carboidratos e minerais, sendo todos eles elementos importantes no processo de produção de energia”, afirma o professor doutor do Departamento de Biotecnologia Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo, João Batista de Almeida e Silva.

Dominada a técnica, o próximo desafio será conseguir produzir o biobutanol em escala industrial e com viabilidade comercial. Segundo Martin, até 2015 a Celtic espera chegar a esse resultado. Será durante essa etapa também que a empresa irá mensurar a exata redução na emissão de CO2. “O biobutanol pode emitir menos carbono que o etanol do milho, já que ele é mais eficiente e evapora menos”, explica João Batista. Outra vantagem é que a matéria-prima é um resíduo, estando praticamente pronta para reuso, eliminando a emissão de CO2 ao longo da cadeia produtiva.

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A Celtic conta com a tradição de uma indústria que gera anualmente cerca de R$ 16 bilhões só na Escócia e produz cerca de 255 milhões de litros de uísque para produzir esse biocombustível. Martin comenta que os produtores escoceses estão animados com a novidade, e umas das ideias da Celtic é que o combustível seja aproveitado pela frota das próprias destilarias, principalmente as menores e mais afastadas de grandes centros urbanizados. “A indústria do uísque é tão tradicional na Escócia que muitas a consideram uma arte, mas rapidamente eles entenderam os benefícios da nova tecnologia”, conta o executivo.

A empresa pretende ampliar suas pesquisas para outras bebidas fermentadas, como vinho e cerveja. Nesse último caso, vantagem para o Brasil, segundo o professor João Batista. “A produção de cerveja gera, só no País, 2,5 milhões de toneladas ao ano de bagaço do malte.”

Fotos: Vidler Steve; Dorothea Schmid/Laif