Papai Noel andou sumido das ruas de Nova York, desde os atentados terroristas de setembro de 2001. Na verdade, o Departamento de Contra-Terrorismo da Polícia proibiu o uso de máscaras – incluindo barbas falsas – em espaços públicos abertos. Assim, nos últimos anos o “Bom Velhinho” ficou confinado ao interior de lojas, teatros e restaurantes, onde seria possível ficar de olho em possíveis suspeitos. Mas agora as autoridades resolveram restituir-lhe o lugar para dar mais brilho às celebrações do Natal mais famoso do mundo, o da Big Apple. Junto dessa “novidade”, há outra que promete agitar a festa deste ano: o PlayStation 3, da Sony. Há uma verdadeira febre em curso por conta da nova versão do videogame. Milhares de pedidos já estão sendo feitos aos pais, e listas de espera estão sendo montadas nas lojas. Em busca da reserva de um aparelho, cerca de 200 pessoas se enfileiraram na porta da loja Toys
R Us, em Manhattan, na segunda-feira 13. Estóica, a turba enfrentou o friozinho e a umidade em acampamentos improvisados.

Com ou sem PlayStation 3 na sacola de presentes, a volta do Papai Noel às ruas de Nova York está sendo comemorada. Sem a figura mais famosa da temporada, a cidade tinha optado pelas luzes e enfeites num exagero que colocou a Big Apple definitivamente na liderança das comemorações natalinas mundiais. “As estimativas são de que os habitantes e comerciantes da cidade, em suas cinco regionais, invistam cerca de US$ 1 bilhão em enfeites”, diz Mary O’Brian, do Escritório de Turismo da prefeitura. Mas, mesmo com toda esta gastança, ainda faltava o protagonista da festa. Por isso, este ano, o governo americano declarou o fim da paranóia.

A primeira aparição oficial de Santa Claus, como o “bom velhinho” é conhecido entre os americanos, deverá ser na parada do Dia de Ação de Graças, que neste ano cai na quinta-feira 23. É quando a loja de departamentos Macy’s promove o maior desfile local, com enormes balões infláveis nas formas de personagens de histórias infantis. Um gigantesco trenó abre a marcha com Noel, que sai da rua 80, desce a avenida Central Park West, passa pela Times Square e desemboca em frente à Macy’s, na rua 34. É naquele estabelecimento que se instala o trono mais famoso do velho. “São 12 Papais Noéis que atendem em turnos de uma hora cada um. Há também um staff de 38 duendes ajudantes. No ano passado, tivemos mais de um milhão de crianças na fila, entre os dias 28 de outubro e 25 de dezembro”, conta Anne Richards, da Macy’s. Nas vitrines da casa – que são tão tradicionais quanto os pinheirinhos enfeitados – os bonecos mecanizados fazem um show. E o tema será o de sempre: o filme Milagre na Rua 34, o clássico preto-e-branco de 1947, do diretor George Seaton.

Quem quiser ver outros Santas Claus andando impunemente não pode deixar de ir à região do Rockefeller Center (entre as avenidas 5ª e 6ª e as ruas 48 e 51). A cada ano escolhe-se um pinheiro de dimensões portentosas, que é transportado para a beira oeste do ringue de patinação. Neste ano, a árvore foi trazida de Canton, em Connecticut. Geralmente, ela é escolhida em propriedades particulares. “No Rockefeller Center, esses pinheiros têm chances de brilhar”, afirma Carol Mancini, da rede de televisão NBC, que promove a festa do acender das luzes da gigantesca árvore. Para tamanho espetáculo são utilizados dez quilômetros de fios que conectam 78 mil lâmpadas. No topo, uma estrela de cristal de um metro e meio. Cercado de iluminados anjos trombeteiros, este monumento – situado diretamente no lado oposto às portas da catedral de São Patrício – servirá de símbolo maior do Natal nova-iorquino entre os dias 29 de novembro próximo e 6 de janeiro de 2007.

Todos esses paramentos apontam para um mesmo caminho: o Deus das compras. O templo maior em Nova York é uma área retangular compreendida entre as ruas 34 e 62 (sul-norte) e as avenidas 7ª e 2ª. Neste espaço estão reunidas as maiores lojas e principais atrações do período: as vitrines decoradas. Há cinco anos consecutivos, a campeã do concurso promovido pelos lojistas da 5ª é a Lord & Taylor, cuja decoração, com figuras mecanizadas, encanta multidões. Tanto que a casa é obrigada a pagar horas extras para os policiais que manejam as filas de curiosos.

O coração natalino da cidade encrava-se no cruzamento da rua 57 com a 5ª Avenida. Lá, paira no ar o maior floco de neve iluminado de que se tem notícia deste lado da galáxia. Daquele ponto privilegiado, é possível também avistar o edifício da joalheria Cartier, sempre embrulhado como presente, e também os enormes enfeites da concorrência, como a Bulgari. Cumprida a rota das compras, pode-se partir para o Central Park. De lá, instalado em um banco, o cidadão terá condições de contemplar, em um merecido descanso da peregrinação, os cavalinhos do carrossel encantado ou o ringue de patinação mais romântico do mundo.