Foi uma cena deprimente: o ministro da Defesa, Waldir Pires, dizendo que estava tudo normal nos aeroportos brasileiros ao mesmo tempo que as companhias aéreas registravam no triângulo Rio–São Paulo–Brasília, o coração desse tráfego, mais de 50% dos vôos com atraso. A essa altura do caos nas pistas de pouso e decolagem, não dá mais para tentar tapar o sol com a peneira. O País caminha a jato para uma espécie de apagão aéreo nos moldes e semelhança do apagão energético que crivou de críticas a gestão do ex-presidente FHC. Autoridades hoje, diante da sucessão de problemas nos terminais de controle por todo o País, já admitem: a situação não se resolve antes de 60 dias. Fazendo as contas, qualquer passageiro brasileiro poderá perceber que vai passar apertos nas suas viagens de fim de ano e de férias. É justamente nesse período que o movimento aumenta pelo menos 25% e não só os vôos lotados como a seqüência de atrasos podem converter os aeroportos numa sucursal do inferno. A falência da operação tem foco na sobrecarga de trabalho dos profissionais que gerenciam o sistema, mas encontra raízes também na falta de investimentos e na guerra interna do comando aeronáutico. Várias cabeças que pilotam o espaço aéreo brasileiro estão a prêmio, mas o que importa mesmo é uma rápida reversão do modelo que vinha sendo operado. A situação ficou ainda mais dramática com o inacreditável choque de duas aeronaves e dezenas de mortes há poucos meses. O sinal vermelho pairou no ar. Agora não basta apenas fazer contratações rápidas de mão-de-obra, porque sem a devida qualificação e treinamento a medida pode se reverter em novos desastres. Lamentável que o Brasil, com suas dimensões continentais, tenha justamente no setor de transporte – aéreo, ferroviário, terrestre e marítimo – o seu grande calcanhar-de-aquiles. Sempre se discutiu quão vital é a infra-estrutura para o crescimento e o desenvolvimento do País, embora também nesse campo poucas discussões tenham se transformado em resultados práticos.