Está longe o tempo em que os cineastas nacionais viviam reclamando da falta de verbas. Agora, os investimentos estão vindo até de fora. Atualmente, cerca de 50 filmes estão sendo feitos através de coproduções com outros países.

De 2005 para cá, 122 longas-metragens foram finalizados com participação de diferentes nações, especialmente ibero-americanas. “A Estrada 47”, por exemplo, dirigido por Vicente Ferraz, com estreia marcada para agosto, só saiu do papel por causa desse tipo de parceria. Para narrar a participação dos pracinhas na Segunda Guerra Mundial, a produtora Isabel Martinez, da Três Mundos, foi atrás de empresas italianas dispostas a dividir os custos. “Além de paisagens autênticas, a coprodução com a Itália facilitou muito a obtenção de veículos, armas e figurinos de época”, disse à ISTOÉ a produtora costarriquenha, radicada no Rio de Janeiro, e que já tem projeto de levar às telas uma ficção ambientada durante a Guerra do Paraguai, com a participação de uruguaios e argentinos.

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Em seu novo trabalho, Lázaro Ramos trocou o sotaque baiano pelo angolano por conta desse cinema sem fronteiras. Na comédia “O Grande Kilapy”, do diretor português Zezé Gamboa, com estreia prevista para abril, ele interpreta Joãozinho, um divertido morador de Luanda. Fernando Andrade, da Raiz Produções, conta que foi procurado pelos colegas portugueses, com dificuldades em rodar “Kilapy” em Angola, país africano que ainda se recupera dos danos da guerra civil.

O litoral da Paraíba, com paisagens semelhantes, foi o local escolhido como cenário. “Uma coprodução não é fácil. A burocracia é enorme, temos que nos adaptar a fazer reuniões via Skype e os prazos dos europeus são muito mais rígidos. Mas os custos caem; o dinheiro é o grande gargalo”, afirma Andrade.

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A fase de filmes como “Olga”, de Jayme Monjadim, em que uma fábrica de Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, virou cenário de campo de concentração com neve artificial ficou para trás. Agora, o realismo ganha força com as gravações em cenários reais. “Não Pare na Pista”, de Daniel Augusto, marcado para agosto, retrata o período em que o escritor Paulo Coelho fez o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Os próprios lugares sagrados serviram de locação. “Se fosse uma produção 100% nacional, teríamos um custo bem maior até remeter o dinheiro para filmar na Espanha”, diz a produtora e roteirista Carolina Kotscho. Coproduções proporcionam também outras regalias, como a possibilidade de se beneficiar de mecanismos de financiamento nos países participantes e também das leis que garantem cotas em salas de cinema e nos canais de tevê em ambos os mercados. O diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel, explica que as parcerias são mais fáceis com os dez países que já assinaram acordos bilaterais com o Brasil, aprovados pelos governos e parlamentos. Outros cinco estão em tramitação no Congresso Nacional ou em fase de negociação. “O objetivo é estabelecer uma via de mão dupla. É importante que o Brasil não seja apenas minoritário nas coproduções. Felizmente, até o momento, as relações têm sido equilibradas”, afirma Rangel.

A Ancine tem lançado editais voltados para mercados específicos com apoio financeiro, como fez recentemente com Argentina e Uruguai, mas a assinatura de acordos não garante recursos para os projetos. Georgia Araújo, que produziu “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz, estrelado por Wagner Moura, diz que o longa não foi resultado das facilidades atuais. “Os investidores alemães perceberam que a história tinha potencial para atrair o público de lá. É de fato um produto híbrido dos dois países”, afirma ela. Um exemplo de como o mercado está cada vez mais aberto.

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Fotos: Divulgação