Quase tudo de ruim que se diz sobre o governo e a oposição da Venezuela é verdade. O que é exagero ou mentira provavelmente foi plantado pelos adversários de cada lado, com modos ditatoriais ou alma golpista. Este é o drama venezuelano. Primeiro, as mazelas governistas: desde que assumiu a presidência, Nicolás Maduro, o sucessor de Hugo Chávez, se mostrou incapaz de conter a violência e frear a deterioração da economia num país em que o desabastecimento de itens básicos virou rotina. A cada dificuldade, Maduro responde com medidas esdrúxulas. No ano passado, quando a inflação oficial ficou acima de 50%, ele antecipou o Natal, criou um ministério para a “Suprema Felicidade” e limitou em 30% o lucro das empresas. A oposição, por seu lado, não consegue fazer valer suas vontades pelo voto e dedica-se abertamente a fomentar o golpe de Estado. Seus líderes são ligados à elite industrial e petroleira erguida sobre a miséria do país. Em 2002, afastaram Chávez do poder, com apoio descarado do governo de George Bush, inflamando manifestações armadas. Não conseguiram manter o golpe por mais de três dias e acabaram expulsos do palácio presidencial. Nos últimos quatro anos, a Venezuela promoveu cinco eleições que mostraram uma nação dividida meio a meio.

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Na semana passada, o país assistiu novamente à guerra de informações entre os dois lados. O opositor da ala radical Leopoldo López, que estudou em Harvard e participou do golpe de Estado de 2002, juntou-se a manifestações organizadas por estudantes contra a insegurança pública, a falta de liberdade de expressão e a crise de desabastecimento. Em meio aos protestos, convocou uma campanha rebelde batizada de “A Saída”, que pregava a renúncia de Maduro. A resposta foi uma forte repressão policial. Ao menos cinco pessoas morreram. Entre as vítimas fatais, estava Génesis Carmona. Eleita Miss Turismo Carabobo 2013, a estudante de 22 anos foi baleada na cabeça durante um protesto em Valencia, a Oeste de Caracas, na terça-feira 18. No mesmo dia, opositores de Maduro inundaram as redes sociais com fotos de cadáveres na Síria e abusos de autoridades em outros conflitos mundo afora, divulgadas como se fossem da Venezuela. Os protestos não são novidade no país. Em 2013, houve cerca de cinco mil manifestações, quase todas pacíficas, de acordo com Yorelis Acosta, pesquisadora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Central da Venezuela. A diferença agora é o grau de violência. “O governo de Maduro é uma continuação do chavismo, que sempre foi tão popular, com a diferença de que Chávez era muito mais carismático”, disse Yorelis à ISTOÉ. “Maduro não tem o mesmo controle e desqualificou os protestos desde o começo.”

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TRAGÉDIA
A miss Génesis Carmona morreu após ser
baleada na cabeça durante os protestos

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