A piada mais repetida nas redes sociais na quinta-feira 20 foi: “Mark Zuckerberg pagou US$ 19 bilhões pelo ­WhatsApp? Idiota. Eu baixei de graça.” A óbvia anedota com a compra do serviço de mensagens instantâneas para smart­phones mais popular do momento pelo gigante das redes sociais Facebook refletia a surpresa generalizada diante de uma operação cujos valores ultrapassaram qualquer outra negociação do tipo no mercado de tecnologia (confira quadro). No entanto, o que Zuckerberg, fundador e diretor-presidente do Facebook, quer é garantir a sobrevivência da própria empresa. O jovem bilionário sabe que não existe fidelidade no mundo digital. Como provam os moribundos Orkut e Myspace, rede social que fica parada é rapidamente engolida pela avalanche de novos serviços que surgem na internet todos os dias.

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PARCEIROS
Mark Zuckerberg (acima), fundador do Facebook, e Jan Koum,
diretor-presidente do WhatsApp: promessas de independência

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Se, ainda assim, US$ 16 bilhões em ações e dinheiro – sem falar em outros US$ 3 bilhões que poderão ser pagos a empregados e acionistas do WhatsApp no futuro – parecem demais, existe outra conta que faz mais sentido. Zuckerberg e seus investidores pagaram cerca de US$ 35 por cada um dos 450 milhões de usuários ativos do WhatsApp. Esse é um valor muito próximo do que o Google pagou por cada internauta cadastrado no YouTube em 2006, numa negociação que hoje parece uma barganha diante da relevância que as plataformas de vídeo adquiriram no universo digital. “O Facebook comprou um serviço que cresce muito rapidamente por cerca de 10% do seu próprio valor de mercado”, disse o empreendedor e investidor Martin Varsavsky. “Esse é o jeito certo de fazer a análise, e não pensando apenas no valor total.”

Portanto, a pergunta correta é: um WhatsApp vale 10% de um Facebook? É provável que sim, mas a resposta pode não ter tanta importância. O fato é que Zuckerberg não tinha muita opção. “Nosso objetivo com o Facebook é criar um grupo de produtos que ajudem a compartilhar qualquer tipo de conteúdo com a audiência que você quiser, e não apenas com todos os seus amigos ao mesmo tempo”, disse Zuckerberg na última conferência de apresentação de resultados da empresa. A proposta é muito clara: para conseguir crescer e sobreviver – especialmente no momento em que os usuários mais jovens começam a deixar o Facebook –, a companhia precisa diversificar. Em 2012, Zuckerberg já havia comprado o Instagram, a mais popular das redes sociais de fotos. No ano passado, ele ofereceu US$ 3 bilhões pelo Snapchat, um aplicativo de compartilhamento de imagens muito popular entre adolescentes. Foi rejeitado. Também em 2013, houve rumores sobre avanços do Facebook sobre o Waze, aplicativo de trânsito para smartphones que acabou adquirido pelo Google.

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HORA H
Para conseguir crescer e sobreviver – especialmente no momento em
que usuários mais jovens deixam o Facebook – é preciso diversificar

Nessa guerra de aquisições turbinadas por bilhões de dólares, os usuários do WhatsApp se perguntam o que vai acontecer com seu adorado aplicativo. “Nada vai mudar”, garantiu o diretor-presidente do Whats­App, Jan Koum. “Você poderá continuar a usar o serviço em qualquer lugar do mundo, em qualquer smart­phone, e sem nenhum tipo de publicidade para interromper a comunicação.” Como o serviço não armazena dados sobre conversações nem o perfil dos usuários, publicidade direcionada não pode ser o foco. No entanto, o Facebook terá acesso a mais de 450 milhões de números de telefones celulares. E essa é uma mina de ouro a ser explorada.

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Fotos: Divulgação; Chris Ratcliffe/Bloomberg via Getty Images