Neste momento, pesquisadores da indústria e da universidade munidos dos mais avançados recursos da medicina, da engenharia e da matemática, entre outros ramos da ciência, investigam o comportamento de cada uma das estruturas da pele. Na verdade, nunca se pesquisou tanto sobre o órgão. O resultado é um salto de qualidade notável na compreensão de seus mecanismos de funcionamento. Essa fixação em entender os segredos da pele é uma resposta ao desejo crescente de homens e mulheres de envelhecerem mais bonitos e saudáveis. “A meta é tratar a pele de dentro para fora para manter a integridade das células, promovendo rejuvenescimento e saúde”, resume Glauber Cipriani, farmacêutico e bioquímico com larga experiência no aconselhamento científico das grandes indústrias da beleza.

O esforço tem dado resultados múltiplos e cada vez mais sofisticados. Um exemplo é a descoberta recente de pesquisadores da Universidade de Dundee, na Escócia. Pela primeira vez, eles detalharam o modo de ação de um gene associado à pele seca. Verificaram que ele regula a produção de uma proteína encontrada na superfície da pele, a filagrina. Uma das suas funções é impedir a penetração de microorganismos e a saída de água. Quantidades insuficientes dessa proteína causam o ressecamento da cútis. Sua ausência está relacionada a doenças como o eczema, uma condição marcada por descamação e formação de crostas. Agora, estuda-se como usar esse conhecimento para criar tratamentos e produtos para este tipo de pele.

Conceitos diferentes para sofisticar a hidratação também estão surgindo. Entre eles, o uso cada vez maior das aquaporinas. “São proteínas que atravessam as membranas das células. Elas podem levar consigo cerca de três milhões de moléculas de água para o interior da célula e, desse modo, melhorar a hidratação de dentro para fora”, explica a dermatologista Shirlei Borelli, de São Paulo. Essas qualidades seduziram a indústria da beleza, que introduziu moléculas similares criadas em laboratório em produtos mais recentes para estimular a atividade dessas estruturas.

Outra área que está rendendo novidades é o estudo das respostas da cútis a diferentes processos. “Até pouco tempo atrás, não se sabia que a exposição do rosto às agressões como a poluição, causa uma microinflamação contínua das células, contribuindo para o envelhecimento”, explica Jean Luc Gesztesi, da indústria Natura. Um dos focos de estudo neste tema é conhecer as alterações da pele relacionadas à ação dos sistemas nervoso, endócrino e imunológico. O stress, por exemplo, provoca uma cascata hormonal com repercussão na derme. Após compreenderem o mecanismo pelo qual isso acontece, ciência e empresas buscam substâncias que aumentem as defesas do órgão, os chamados imunomodulares. “É uma tendência de pesquisa forte”, conta a dermatologista Maria Victória Souza, da Sociedade Brasileira de Medicina Estética.

Responsável pela firmeza da pele, ossos e cartilagens, o colágeno ocupa o centro das atenções. Sobre ele, há muitas novidades. Na última semana, pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology, nos EUA, anunciaram a criação de modelos virtuais dos diversos tipos de colágeno. A ferramenta facilitará a criação de moléculas, em laboratório, que fariam as vezes das fibras perdidas com o tempo. Na Alemanha, outro grupo de cientistas contribuiu para o arsenal de informações sobre a fibra ao verificar que sua perda é mais rápida em mulheres, em comparação com homens da mesma faixa etária.

Porém, ao mesmo tempo que concentram esperanças, as descobertas também podem levar a riscos. Nos EUA, começam a chegar ao mercado cosméticos contendo fatores de crescimento. São substâncias que teriam a capacidade de acelerar o desenvolvimento e a atividade dos tecidos, entre elas o colágeno. “Mas não se sabe as conseqüências do seu uso a médio e longo prazos”, diz a dermatologista Érica Monteiro, de São Paulo. A médica, junto com a dermatologista Leslie Baumann, da Universidade de Miami, é autora de um trabalho publicado pela revista americana Future Drugs no qual coloca em xeque os testes de cosméticos. As duas concluíram que a maioria dos produtos é testada apenas em laboratório. Na sua opinião, a falta de uma avaliação do desempenho dos cosméticos na pele, a longo prazo e dentro de padrões científicos mais rígidos, compromete a credibilidade dos vários artigos.