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Nove dos 15 integrantes do Conselho de Ética do Senado respondem a processos. Dezesseis senadores estão encrencados na Justiça por mau versação de dinheiro público. A cada legislatura, a Câmara dos Deputados cassa alguns de seus membros por corrupção. Se esse quadro é conseqüência dos desmandos, onde está a causa? "A ocasião faz o furto, o ladrão já nasce feito", alguns certamente hão de se lembrar da interpretação mais honesta do velho ditado popular. Mas a correção pessoal, contudo, serve melhor para explicar o fato de termos alguns bons parlamentares do que para justificar por que tantos se envolvem em falcatruas.

Na semana passada, o Banco Mundial constatou uma piora nesse quadro nos últimos dez anos – e os brasileiros começam a exigir o fim do foro privilegiado para políticos. O argumento de que a Justiça tarda tanto que não pode nem se dizer que seja falha ajuda a entender a impunidade, mas não explica o crime.

A classe política brasileira está encalacrada porque a mistura de Estado grande, polícia ativa, imprensa livre e Justiça lenta é nitroglicerina pura. Como no atual sistema brasileiro não existem grandes obras sem governo (ora porque são tantas as exigências legais, ora porque as PPPs mal saíram do papel), deputados e senadores assumem a posição de intermediários – o elemento de conexão entre as licenças, o orçamento do Estado e as empreiteiras.

No momento em que o governo Lula começa a deslanchar uma série de novas obras de infraestrutura, a sociedade deve estar consciente de que o único caminho para reduzir as oportunidades de corrupção é privatizar, privatizar e privatizar. Ou então vamos nos acostumar a uma democracia vaga-lume, na qual o Congresso só funciona nos intervalos em que seus membros não estão submetidos a escândalos, renúncias e cassações. Algo cada dia mais raro.