Faltam quase três anos para a próxima eleição presidencial nos Estados Unidos, mas a campanha para a sucessão de Barack Obama já elegeu a nova queridinha da América. Trata-se da ex-primeira-dama e ex-secretária de Estado Hillary Clinton, estrela de anúncios de tevê e de uma série de eventos criados para alavancar sua candidatura. Apesar de a decisão oficial só sair no fim do ano, os comitês políticos independentes levantaram mais de US$ 4 milhões em prol da mulher de Bill Clinton. Apenas o Ready for Hillary, o maior dos comitês, conta com 33 mil doadores registrados, e nos próximos meses o nome de Hillary deve ganhar ainda mais projeção, com uma conveniente turnê nacional de lançamento de seu livro de memórias. “Hillary tem o claro desejo de liderar”, disse à ISTOÉ Nichola Gutgold, autora de “Almost Madam President:  Why Hillary Clinton ‘won’ in 2008” (“Quase Senhora Presidente: Por que Hillary Clinton ‘ganhou’ em 2008”). “Quando foi primeira-dama, Hillary foi extremamente infeliz, porque aquele papel não parecia suficiente para ela. Quando foi eleita senadora de Nova York, ela já era uma pessoa completamente diferente.” A escritora, porém, afirma que o excesso de holofotes pode ser perigoso para a pré-campanha de Hillary. Nas últimas semanas, só dá ela no noticiário político local, e a capa da revista “Time” de 27 de janeiro questiona: “Quem pode parar Hillary?”. “A mídia a trata como se ela já fosse a escolhida e os americanos gostam de pensar que não é assim tão fácil, porque o poder de decisão está nas mãos dos cidadãos.”

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A VEZ DELA
Hillary Clinton já foi secretária de Estado, senadora
e primeira-dama. Agora é favorita à Casa Branca

Para muitos especialistas, os americanos podem achar que, depois de um presidente negro, chegou a hora de ter uma mulher no comando – e esse é o maior pesadelo da oposição. Na eleição de 2012, o voto feminino deu uma vantagem total de 18% para Obama e seu apoio foi determinante em Estados estratégicos como Ohio e Pensilvânia. “O Partido Republicano não aprendeu sua lição e continua alienando o eleitorado feminino”, disse à ISTOÉ Jehmu Greene, analista política de Nova York. Em seu esforço pelo voto dos mais conservadores, os republicanos se afastaram das mulheres em temas como aborto (legalizado no país desde 1973) e contracepção. Para Jehmu, que trabalhou como assessora de Hillary na campanha de 2008, quando ela perdeu a indicação do Partido Democrata para o atual presidente, os americanos foram taxativos naquela época em demonstrar que queriam Obama como líder e foram seduzidos por um discurso de mudança e renovação. Hillary foi muito criticada por ter votado a favor da Guerra do Iraque. O contexto agora é outro.

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EM BAIXA
Depois de se envolver num escândalo político,
o republicano Chris Christie perdeu vantagem

Pesa a favor da ex-secretária de Estado o reconhecimento internacional, a origem em uma família de classe média e o que os especialistas chamam de “elasticidade retórica”: ao mesmo tempo que consegue ser uma debatedora durona, é também acolhedora, uma figura quase maternal. Entre suas dificuldades estão o descontentamento com o governo Obama (o desemprego, afinal, continua alto) e o fato de que sua passagem pela Secretaria de Estado não foi das mais marcantes. A boa notícia para Hillary é que o principal candidato da oposição, o governador reeleito de Nova Jersey, Chris Christie, perdeu o favoritismo depois de um escândalo político. Na pesquisa CNN/ORC International, divulgada na semana passada, Hillary o ultrapassou nas intenções de voto. De 46%, em dezembro, ela avançou para 55% no mês seguinte. Por ora, parece mesmo difícil parar Hillary.

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Fotos: Khue Bui/AP Photo; Jeff Zelevansky/Getty Images