Homenageado da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, Marat Descartes encarna Junior, perturbado (e perturbador) personagem de “Quando Eu Era Vivo”, longa que abriu a programação da semana cinéfila em Minas Gerais e que agora entra em cartaz no circuito comercial. O filme dirigido por Marco Dutra (de “Trabalhar Cansa”, de 2011) se baseia em “A Arte de Produzir Efeito Sem Causa”, de Lourenço Mutarelli, que faz uma ponta como motorista contratado para levar Junior para uma entrevista de emprego. Mas diferentemente do texto original, o roteiro do diretor com Gabriela Amaral Almeida deixa o público sem muitas pistas dos rompimentos que levam o personagem principal a retornar a casa do pai viúvo, gatilho de um mergulho num abismo que às vezes parece psicológico, outras psiquiátrico, quando não paranormal.

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Loureço Mutarelli (esq.), autor do livro que deu origem ao filme, faz uma ponta em
 “Quando Eu Era Vivo”, que entra em cartaz nas salas de cinema do país hoje. Na foto, com o autor
com Marat Descartes, que interpreta protagonista inspirado no papel de Jack Nicholson em “O Iluminado”

Recebido com uma certa distância pelo pai (Antônio Fagundes), Junior dá início a um garimpo dos objetos remanescentes da mãe pelo antigo apartamento do centro de São Paulo. A mãe aparece em lembranças, algumas gravadas em cenas de vídeos caseiros típicos dos anos 80, mas sua morte também fica sem nenhuma explicação. A chave de um dos mistérios concêntricos desse terror contemporâneo é também um dos núcleos mais espantosos e bonitos do filme, a música. O que a propósito justifica a presença de Sandy (hoje Sandy Leah) no elenco. A cantora, aliás, segura bem o papel da estudante interiorana que acaba por se envolver no imbróglio familiar de seu inquilino.