Dois jovens tombaram feridos por esses dias nas ruas de São Paulo, vítimas de uma violência desproporcional da polícia. Ambos estavam participando da nova onda de manifestações contra a Copa. Uma estudante de 18 anos – que não quer se identificar, temendo represálias – estava sentada numa calçada, desarmada, sem oferecer ameaça, quando foi deliberadamente, propositalmente, atropelada por uma moto da PM. O flagrante em vídeo assistido por todo o País não deixa margem a dúvidas. O agente da lei, sem razão aparente, vira o veículo em direção à jovem e passa por cima dela para logo depois descer e, com a ajuda de colegas de farda, desferir uma série de golpes de cassetete sobre a menina, de maneira covarde e inclemente. Inexplicável, a cena causa indignação e suscita dúvidas sobre a capacidade da corporação paulista de transmitir a tão esperada sensação de segurança que é, em essência, seu papel na sociedade. Fica evidente nos excessos e na truculência a dificuldade das forças do Estado em lidar com situações extremas como os protestos. A baderna e o quebra-quebra devem sim ser contidos e a ordem pública, preservada, mas sempre dentro dos limites da civilidade, sem abuso, principalmente por parte da autoridade responsável. Eis um valor inalienável da democracia que vem sendo negligenciado por aqui. O despreparo desses policiais assumiu escala ainda mais dramática no caso do estoquista Fabrício Proteus Chaves, 22 anos, baleado duas vezes depois de ser perseguido por três policiais nas ruas de um bairro nobre de São Paulo. Os PMs sacaram suas armas e atiraram sem hesitação logo que o alcançaram. A alegação para os tiros é que ele portava na mochila um estilete. Ato contínuo ao episódio, a Secretaria de Segurança do Estado deu respaldo à ação, classificando-a de “legítima defesa”. Para todos ficou a indagação: três PMs, armados até os dentes com o aparato de cassetetes, algemas e coletes à prova de bala, precisavam realmente atirar, mesmo no caso de o rapaz oferecer alguma resistência com um estilete? Obviamente, agentes bem treinados conseguiriam imobilizar o manifestante sem a necessidade de apelar para armas de fogo. Essas, aliás, nem deveriam fazer parte do arsenal usado em situações do tipo. A agressividade extrema mais a inabilidade recorrente da instituição policial são uma combinação explosiva que acaba gerando mais e mais descontrole e convulsão social.