A paixão pela carreira de esportista fez com que Laís Souza, 25 anos, ex-integrante da seleção brasileira de ginástica olímpica, procurasse o esqui aéreo após a aposentadoria. Apesar de comum, a migração de esportistas de uma modalidade para outra pode ser penosa e demorada. E Laís era um exemplo de domínio rápido no novo esporte. Há oito meses na equipe e há apenas três em atividades na neve, a jovem conquistou uma vaga nos Jogos Olímpicos de inverno em Sochi, na Rússia, que começam na sexta-feira 7. Mas um acidente ocorrido na segunda-feira 27, enquanto ela treinava em Park City, Utah, nos Estados Unidos, pode deixá-la tetraplégica. Após se chocar contra uma árvore, Laís lesionou a vértebra C3, passou por ­cirurgia e está consciente, mas não sente as pernas nem os braços, embora tenha conseguido mexer os ombros. Na quinta-feira 30, os médicos do Hospital da Universidade de Utah disseram que a atleta corre o risco de passar o resto da vida respirando com ajuda de aparelhos e que está se comunicando pelos olhos por meio de um software.

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AÇÃO
Laís Souza (abaixo) durante treinamento de esqui aéreo: a ex-ginasta praticava
a modalidade há apenas oito meses e já ia participar dos Jogos de Inverno

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“É comum atletas que trocam de modalidade conseguirem se desenvolver na parte física, mas demorar para pegar a parte técnica e tática. É preciso um ou dois anos de adaptação”, diz João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte. O atletismo e a ginástica são as modalidades que mais cedem atletas para os esporte de inverno, um “procedimento comum”, segundo Marcus Vinicius Freire, diretor executivo de esportes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), Stefano Arnhold, lembra que os maiores expoentes do esqui aéreo vieram da ginástica, e conclui: “Foi uma fatalidade”. Ryan Snow, técnico das atletas, disse que a jovem estava preparada, apesar de nunca ter esquiado antes – ela inicialmente estava sendo treinada para os Jogos de 2018. “É uma atleta extraordinária.”

Mas há quem pense diferente. Como o campeão sul-americano de snowboard Andre Cywinski. “Repudio o incentivo que a CBDN dá para os atletas migrarem para esportes radicais. Pegar uma esportista da ginástica e sem experiência com a neve e com os saltos em rampas foi grave.” Algo semelhante, embora bem menos grave, aconteceu ao velocista Claudinei Quirino, que migrou para o bobsled, espécie de corrida de trenós, e saiu dos jogos de Turim em 2006 com o braço quebrado. Josi Santos, que estava com Laís no momento do acidente e irá substituí-la nos Jogos, postou em uma rede social: “Farei por você. Você voltará para casa do mesmo jeito que entrou nessa comigo: andando.”

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Fotos: Renato Leite Ribeiro/CBDN


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