Ainda faltam nove meses para a eleição presidencial, mas a gestação para a escolha dos candidatos a vice já está em fase final. Ao contrário do que se costuma observar na maioria das disputas eleitorais, quando as definições das candidaturas se dão no limite estabelecido pela legislação (confira quadro na página 40), este ano a presidenta Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tentam apressar a escolha dos vices. Na semana passada, os três praticamente definiram a questão. Por razões diferentes, eles têm pressa.

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ARTICULAÇÃO
Durante almoço em São Paulo, na quarta-feira 29, Aécio, FHC,
o ex-senador Tasso Jereissati (ao centro) e o vereador
Andrea Matarazzo (à esq.) finalizam a chapa tucana

O tucano Aécio Neves assimilou como poucos as últimas derrotas do PSDB e tem dito aos auxiliares mais próximos estar convencido de que só terá chance de vitória se chegar em abril com o partido absolutamente unido. Uma tarefa que nem José Serra e Geraldo Alckmin conseguiram realizar nas disputas de 2002, 2006 e 2010. Visando não repetir os erros do passado, Aécio e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vêm conduzindo as negociações para a formação de uma chapa puro-sangue. “Só assim poderemos pacificar o partido”, disse FHC a um dirigente nacional do PSDB. E a definição da chapa foi praticamente sacramentada durante um almoço em um restaurante francês de São Paulo, na quarta-feira 29. Além de FHC e de Aécio, estavam presentes o ex-senador Tasso Jereissati (CE) e o vereador tucano Andrea Matarazzo. No encontro, Tasso foi convencido a concorrer ao Senado pelo Ceará. A candidatura abrirá um palanque para Aécio no Estado. O mais importante, no entanto, foi a discussão a respeito do vice de Aécio. Está praticamente sacramentado que a vaga será ocupada pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), senador mais votado da história, com 11 milhões de votos. Além de unificar o partido, a escolha de Aloysio contempla na chapa os dois maiores colégios eleitorais do País, Minas Gerais e São Paulo. A oficialização só não ocorreu porque um dos avalistas do acordo, José Serra, foi submetido na última semana a uma cirurgia. Mas um de seus mais fiéis aliados, Andrea Matarazzo, o representou no encontro, e o anúncio deve ocorrer nos próximos dias.

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A escolha do vice de Eduardo Campos se deu por outras razões. A intenção é aproveitar ao máximo a popularidade de Marina Silva. Todas as pesquisas encomendadas pelo PSB até agora indicam que a ex-ministra conserva os 20% do eleitorado que reuniu em 2010, o chamado “recall”, especialmente entre os jovens. Se, naquela eleição, Marina representava o voto de protesto contra o já desgastado embate entre PSDB e PT, a tendência se intensificou agora. As constantes manifestações de rua são o efeito mais aparente dessa insatisfação. Para Campos, que não conseguiu deslanchar nas pesquisas de intenção de voto, a presença de Marina ao seu lado não só é necessária, como imprescindível. Os dois sacramentaram a chapa horas antes do nascimento do quinto filho do governador, na quarta-feira 29. Embora prefira não se manifestar abertamente sobre o tema, ao menos até março, sua decisão é confirmada por interlocutores do comando da Rede. No dia 7 de fevereiro, a dupla vai praticamente selar a união com o lançamento das diretrizes programáticas, compiladas por meio de contribuições de internautas através do site “Mudando o Brasil”.

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VIDA NOVA
Na quarta-feira 29, o pré-candidato Eduardo Campos
posou para fotos segurando Miguel, seu quinto filho

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Já a escolha do vice de Dilma foi pautada pelo tempo que ela terá a mais no horário eleitoral gratuito a partir da aliança com o PMDB, de Michel Temer. Não por acaso, na última semana, a presidenta foi aconselhada por aliados a assegurar o sexto ministério para o partido na reforma ministerial. Hoje, o PMDB comanda as pastas de Previdência, Agricultura, Turismo, Minas e Energia e Aviação Civil. Dilma tem três destinos possíveis para os aliados: além do Desenvolvimento, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Secretaria de Portos. Prevalecendo a ideia de dar o sexto ministério ao PMDB, a sigla poderia ser alojada tanto na primeira quanto na segunda pasta. Com isso, Portos acomodaria o PTB, cujo indicado é Benito Gama.

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As escolhas de PSDB, PT e PSB para a vaga de vice, no entanto, não estão imunes a problemas. A aliança do PSB com Marina gera atritos em pelo menos dez Estados do País, onde a Rede e os socialistas não se entendem. O PMDB e o PT também precisam equacionar questões regionais e contam com a habilidade política de Michel Temer para resolvê-las. Já a articulação tucana ainda enfrenta os protestos silenciosos do DEM, que amarga o isolamento após uma longa e sólida parceria. “A decisão de aliar-se é prerrogativa do candidato a presidente. Ele deve saber como agir para agregar o apoio dos aliados”, afirma o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN). Ele diz que seu partido priorizou as candidaturas de deputados e senadores e, até março, avaliará se lança ou não candidato próprio. Esse caminho, porém, é improvável.

Fotos: EPITACIO PESSOA/ESTADÃO, Aluisio Moreira/Divulgação


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