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CORRIDA
Montagem fotográfica sobre Monumento aos Bandeirantes (conhecido como “empurra-empurra”) traduz cenário paulista

A pouco mais de dez meses das eleições de 2010, os mais de 29 milhões de eleitores paulistas têm apenas uma vaga ideia de quais serão os candidatos à sucessão do governador José Serra. Maior colégio eleitoral do País e de importância ímpar na disputa presidencial, São Paulo segue em compasso de espera até que o cenário nacional fique mais claro. De um lado, o PSDB aguarda a quase certa definição de José Serra como candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se assim acontecer, a disputa interna entre o ex-governador Geraldo Alckmin e o secretário da Casa Civil paulista, Aloysio Nunes Ferreira, será definida em pouco tempo. Alckmin é líder inconteste nas pesquisas, mas Aloysio é o preferido de Serra. Há, é claro, a chance de o governador paulista desistir de concorrer à Presidência e disputar a reeleição. No lado petista a indefinição é ainda muito maior do que no lado tucano. Lula quer Ciro disputando o governo do Estado, que diz querer a Presidência e que por sua vez não é aceito pelos petistas de São Paulo. Em meio a esses desentendimentos, pelo menos cinco petistas aguardam uma definição de Ciro para tentar emplacar seus nomes como candidatos ao Palácio dos Bandeirantes.

O enrosco paulista poderia ser explicado por um sem-número de variáveis, mas suas raízes e sua solução estão nos dois principais líderes dos dois partidos: Lula e José Serra. As indefinições sobre quem disputará o Palácio dos Bandeirantes são, em última instância, resultado dos desejos e incertezas políticas do presidente da República e do governador de São Paulo. No mundo ideal de Lula, Ciro seria o candidato da oposição para tentar, ao menos, enfraquecer a hegemonia tucana em São Paulo e, de quebra, atacar Serra no Estado. Na semana passada, o presidente, mais uma vez, mandou um recado aos petistas paulistas que insistem em ter um candidato próprio: “Em São Paulo o PT sempre fez aliança pela esquerda. É a soma do zero com o zero. Não agrega nada novo”, afirmou Lula. Serra, por sua vez, reluta em ratificar o nome de Alckmin como candidato a sua sucessão por dois motivos. Um deles é a verdadeira incerteza se irá disputar de fato as eleições presidenciais mais uma vez. Entre os tucanos há o temor de que o governador paulista decida concorrer à reeleição se achar que pode perder para Dilma Rousseff. O outro é o desejo do governador de não ver seu desafeto político, Geraldo Alckmin, assumir o governo do Estado. Por isso a insistência no nome de Aloysio Nunes Ferreira, um político sem expressão popular, desconhecido da maior parte dos eleitores paulistas.

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Dos dois, o caso mais complexo é o do PT. Tradicionalmente segmentado, o partido vive um raro momento de união em torno da tese de que é fundamental ter um candidato próprio. Se, de fato, apoiar Ciro ou qualquer outro nome, essa será a primeira vez desde 1984 que o PT não terá um candidato na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, e isso tem incomodado os petistas. “Nós precisamos sair desta eleição com um capital político forte.Precisamos preparar um nome para ter chances reais de vencer os tucanos em 2014”, afirma um dirigente estadual do partido, que logo em seguida faz questão de jurar lealdade a Lula. “Mas não vamos nos rebelar, não vamos entrar em atrito com o presidente, ele tem a palavra final”, reconhece o petista, que deve ser candidato à Assembleia Legislativa em 2010. Pelo menos seis nomes já foram ventilados internamente no partido para assumir a missão de enfrentar – e provavelmente ser derrotado – os tucanos nas próximas eleições. O preferido dos petistas – e também de Lula – é o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Os impedimentos legais que o hoje deputado federal tinha para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes caíram por terra desde que ele foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal no caso de violação do sigilo bancário de seu ex-funcionário, o caseiro Francenildo Santos Costa. Mas Palocci ainda não deu nenhum sinal de que pretende concorrer à sucessão de José Serra.

Na outra ponta está o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, que desde o início do ano vem fazendo uma intensa campanha partidária para ver seu nome aprovado. Ele conta com o apoio do deputado João Paulo, uma das principais lideranças do PT paulista, é bem-visto pela bancada estadual do partido, mas não tem a bênção de Lula. “Participei das caravanas pelo interior, visitei prefeitos e parlamentares petistas. Quem quer ser candidato tem que circular”, diz, cutucando outros pré-candidatos petistas, como o ministro Fernando Haddad, que colocou seu nome à disposição do partido, reconhecendo, no entanto, que a força das candidaturas depende de Lula. “Alguns só se tornarão candidatos fortes se o Lula quiser.” Outro que também disputa o posto com Emídio é o senador Eduardo Suplicy, que já busca assinaturas entre os petistas para levar seu nome à convenção do partido. “Comecei a colher as 2.970 assinaturas que são necessárias para ser pré-candidato. Dentro de três semanas, deverei apresentá-las. Aí estarei no páreo”, afirmou o senador, que acredita que possa haver um consenso no partido. “É natural que o PT queira ter seu próprio candidato. Diante de um candidato forte como o Alckmin precisamos examinar bem os nomes”, diz Suplicy. Outro que aposta na candidatura do ex-governador é o deputado Carlos Zaratini. “As pessoas escolhem pelo recall. O Alckmin é o mais lembrado por causa disso. Depois que a campanha começar esses números serão outros.”

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INTERNO
O maior adversário de Alckmin está em casa: ala do PSDB quer Aloysio Nunes Ferreira como candidato

A certeza de que Alckmin será o candidato tucano ainda se restringe ao círculo petista. No PSDB ninguém arrisca cravar o nome do ex-governador como o candidato do partido à sucessão de José Serra. “O nome do Alckmin é uma indicação, mas ainda não temos um nome definido, temos que respeitar o Aloysio. Estamos numa fase preliminar da sucessão”, afirma o deputado Arnaldo Madeira. O, digamos, pudor em decretar que Alckmin será o candidato não é uma exclusividade do parlamentar. Como todos sabem que a decisão final sobre o nome que concorrerá ao Palácio dos Bandeirantes passa indubitavelmente por Serra, Aloysio, mesmo distante anos-luz de seu adversário interno, ainda é frequentemente citado pelos tucanos. “O Aloysio não assumiu que é candidato, mas todos sabem que essa possibilidade existe. Se o critério de escolha for a pesquisa, o cenário é favorável ao Geraldo”, afirma o deputado José Aníbal. A tendência é de que a situação no PSDB se desenvolva com mais tranquilidade do que no PT, já que o número de atores é menor.

Correndo por fora nessa disputa está o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que este ano se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), o mesmo de Ciro. Internamente, Skaf não esconde que quer ser candidato ao governo e já vem trabalhando para tentar viabilizar seu nome para ser apoiado pelo PT. Nas últimas semanas o representante do maior símbolo do capitalismo brasileiro procurou lideranças petistas a fim de amainar possíveis barreiras. Skaf se encontrou com Emídio e com Berzoini e ouviu dos dois que seria praticamente impossível ter seu nome referendado pelo partido. Skaf, por sua vez, afirma que não há nada definido e nega os encontros com as lideranças petistas. “O PSB me convidou para ser candidato ao governo de São Paulo, mas o horizonte só ficará mais claro em março. As pessoas querem renovação, novidade”, afirma o presidente da Fiesp. Skaf está certo. Só em março as coisas devem, de fato, clarear em São Paulo. De certo, até agora, não há nada, mas tudo está praticamente resolvido. Só falta Serra e Lula darem a palavra final.