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A escolha do melhor momento para conversar sobre sexo em casa continua sendo um dilema para muitos pais, apesar dos avanços no campo da sexualidade. A constatação é de um estudo publicado neste mês pela revista americana de pediatria “Pediatrics”, liderado por Mark Schuster, professor da Escola Médica de Harvard, nos Estados Unidos. Ao acompanhar 155 adolescentes, com idade entre 13 e 17 anos, e seus respectivos pais por um ano, eles descobriram que mais de 40% dos jovens tiveram a primeira relação sexual sem nunca ter conversado sobre sexo com os responsáveis. Por embaraço ou medo de despertar uma curiosidade precoce, muitos esperam tempo demais para abordar o assunto. E perdem a oportunidade de ajudar os filhos quando eles iniciam a vida sexual. O resultado da desinformação é uma exposição maior a uma gravidez indesejada ou infecções por doenças sexualmente transmissíveis, alertam os especialistas. O estudo americano reflete uma realidade que os médicos também comprovam no Brasil. No Núcleo de Estudos em Saúde do Adolescente (Nesa), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, quando buscam informações sobre sexo, os adolescentes costumam ir sozinhos ou com amigos, observa a pediatra do núcleo Regina Katz. “Apenas para tratar de doenças eles levam os pais”, diz. Para o sexólogo Marcos Ribeiro, autor do livro “Conversando com seu Filho Sobre Sexo”, as duas gerações têm dificuldade de falar sobre o assunto, porque ainda não o tratam como etapa natural do desenvolvimento. Para ele, a orientação deveria ser dada às crianças quando surgissem as primeiras perguntas. “Os pais traduzem a infância como uma fase de inocência, em que a sexualidade não está presente, mas isso não é verdade”, diz Ribeiro. Mesmo quando há espaço para conversa, nem sempre ela tem qualidade, demonstraram os pesquisadores americanos. Metade dos responsáveis não havia orientado os filhos sobre contracepção ou uso de preservativos. “Hoje, temos menos tempo para tudo, por isso, apesar de falarmos mais sobre sexo, as conversas são superficiais”, diz José Maria Soares Junior, chefe do setor de Ginecologia da Infância e do Adolescente na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Apesar da vastidão de informações a que os jovens têm acesso na internet, pela televisão e na escola – e também por conta disso –, a função de pais como educadores é essencial, defende Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, de São Paulo, que oferece educação sexual para jovens. “Ter uma boa conversa é garantia de que numa situação de perigo eles irão buscar o apoio dos pais”, diz ela.

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