Os piores dias para ser submetido a uma cirurgia ou receber atendimento nos hospitais são as sextas-feiras, os sábados e os domingos. É o que revelam estudos realizados ao redor do mundo com o objetivo de aferir os períodos de maior risco para os indivíduos. O mais recente, feito por pesquisadores da Clínica Mayo (EUA), foi divulgado na semana passada. Eles fizeram uma revisão de 48 pesquisas executadas em vários países e que envolveram 1,8 milhão de participantes. Dessa análise, concluíram que no grupo de pacientes com infarto admitidos à noite ou nos fins de semana a mortalidade foi 5% maior em comparação com os atendidos durante a semana nos horários regulares.

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CUIDADO
O médico Tiago defende o investimento em treinamento para evitar erros

Recentemente, estudiosos do Imperial College de Londres, na Inglaterra, constataram que pessoas submetidas a operações programadas entre sexta-feira e domingo têm maiores chances de morrer até 30 dias após o procedimento do que as operadas ao longo da semana. Os autores do estudo analisaram quatro milhões de operações executadas pelo serviço público de saúde britânico entre 2008 e 2011. “Na sexta-feira, o paciente tem 44% mais chances de morrer do que se for operado na segunda-feira. Aos sábados e domingos, os riscos de morrer são 82% maiores”, afirmou Paul Aylin, principal autor do levantamento. No Massachusetts General Hospital, em Boston, descobriu-se que as infecções pós-operatórias são 50% mais frequentes em pacientes com colite ulcerativa operados emergencialmente no fim de semana.

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Uma das principais causas do problema, na opinião dos pesquisadores, é a menor disponibilidade de funcionários, de recursos e de centros diagnósticos de sexta a domingo.“Nesses períodos há menos profissionais de nível sênior e menor disponibilidade de serviços de diagnóstico”, disse Paul Aylin à ISTOÉ. No Brasil, o médico Tiago Dal Molin, que há oito anos chefia o pronto-atendimento de hospitais públicos e privados, enxerga diferenças no atendimento dado de dia e de noite e de acordo com os dias da semana. “A rotina do hospital é mais ágil durante o dia”, diz. “Em geral, os plantonistas da noite e de fim de semana não estão bem inteirados dos protocolos de atendimento, o que pode levar à demora na tomada de decisão e falhas no cuidado”, afirma. “É necessário investir em treinamento para diminuir os riscos apontados pelos trabalhos.”

Foto: PEDRO DIAS/Ag. Istoé