Na política, convencionou-se dizer que disputas eleitorais nas quais há pouco ou quase nenhum risco de derrota são as que encontram – usando um termo geralmente associado à aviação – um “céu de brigadeiro” em seu horizonte. Foi o que ocorreu nos últimos cinco pleitos disputados pelo PSDB ao governo do Estado de São Paulo. Há 20 anos, os tucanos encontram céu aberto pelo caminho: conseguem atrair à sua órbita o maior número de partidos, celebram alianças eleitorais com mais facilidade, conseguem montar os mais robustos palanques e, nas urnas, justificam o favoritismo. Desde 1994, ganharam todas. Muitas sem necessidade de segundo turno, como em 2006 e 2010. Agora, no entanto, pela primeira vez em mais de duas décadas, nuvens pesadas surgem no caminho e ameaçam deixar a disputa mais turbulenta para os tucanos.

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TURBULÊNCIAS
Debandada de aliados faz com que Geraldo Alckmin
perca o apoio de mais de 150 prefeitos em São Paulo

A nove meses da disputa, o candidato à reeleição do PSDB, Geraldo Alckmin, nunca esteve tão isolado. Rompido com os principais partidos e lideranças que lhe deram sustentação nas últimas campanhas, como PMDB e PSD (então DEM), e mal resolvido com o indeciso PPS, fiel parceiro de outrora, Alckmin agora vê um importante aliado, o PSB, deixar seu arco de alianças. Essas baixas representam a perda de apoio de 30% dos prefeitos paulistas, além de metade do tempo no horário eleitoral gratuito em relação às eleições passadas. “Os tucanos enfrentarão as maiores turbulências dessas eleições”, avalia o cientista político Gaudêncio Torquato, professor da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, Alckmin só pode contar mesmo com o desestruturado DEM, o sempre questionado PSC de Marco Feliciano e, se tudo correr como o esperado, o PTB.

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FATOR CAMPOS
Parceria com Marina Silva levou PSB a sair da aliança com Alckmin

O desembarque dos socialistas da canoa do PSDB ao lado de outras importantes legendas começou com a saída do PMDB da coligação. Os peemedebistas lançaram o nome do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que já aparece nas pesquisas em segundo lugar, com cerca de 20% das intenções de voto. Na última semana, ganhou força a possível aliança entre o PMDB, de Skaf, e o PSD, de Gilberto Kassab. No caso, o ex-prefeito de São Paulo desistiria da candidatura ao governo do Estado e disputaria a vaga como senador na chapa de Skaf. Estrategistas eleitorais acreditam que essa seria uma grande tacada do ex-prefeito, já que ele manteria o apoio já declarado à presidenta Dilma Rousseff e não teria de enfrentar eventuais contratempos de estar numa chapa coligada com o PT.

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O grande problema do desembarque das grandes legendas da coligação tucana é o enfraquecimento regional do partido, ponto forte do PSDB em São Paulo. “É a força do interior que determinará o resultado dessas eleições”, explica o sociólogo Fábio Gomes, presidente do Instituto Informa. Em números, as baixas tucanas no interior do Estado podem chegar a mais de 150 das 645 cidades paulistas. Ao que parece, ao contrário do que ocorreu em eleições anteriores, tucanos podem esperar chuvas e trovoadas no horizonte.