Sem filmar desde A morte e a donzela (1994), Roman Polanski retorna às telas mais uma vez invocando as forças malignas. Para ele, inclusive, já que O último portal (The ninth gate, Estados Unidos/França/Espanha, 2000), estréia nacional na sexta-feira 21, é uma grande decepção. Johnny Depp, no papel do bibliófilo Dean Corso, é um negociante cético, levado a protagonizar um jogo macabro no qual tropeça em tipos ligados ao ocultismo e ao sobrenatural. Sofre o filme inteiro feito anjo na mão do capeta. Quando encontra abrigo nos braços da ricaça Liana Telfer (Lena Olin) ou de sua suposta protetora, batizada apenas de A Garota – papel da sempre vampiresca Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski na vida real –, esbarra em intenções bastante duvidosas e cai numa trama rocambolesca, que o leva a tentar resolver um enigma contido num raríssimo e misterioso livro do século XVII. É aí que Polanski, bem longe de seu antigo estilo de causar arrepios, sustos ou risos, derrapa feio na história frágil, de certa pretensão.

A frustração só não é completa porque em alguns momentos Polanski revela sopros do diretor perturbador e provocante que foi um dia. Mesmo assim, a tentativa de criar uma atmosfera de suspense infelizmente sucumbe ao tédio. Entre os parcos achados estão a contida caracterização de Depp e a surpreendente estréia nas telas do assistente de direção espanhol José López Rodero, no papel duplo dos irônicos irmãos gêmeos Pablo e Pedro Ceniza, participação pequena, porém importante. Mas é muito pouco, ao se pensar na assinatura estrelada da fita.


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