Alberto Fujimori bem que tentou, mas não conseguiu. O descarado sistema fraudulento nas eleições presidencias do domingo 9 não assegurou o terceiro mandato ao presidente do Peru no primeiro turno. Fujimori, do Movimento Peru 2000, deverá enfrentar em junho o candidato do partido Peru Possível, o economista Alejandro Toledo. Na quarta-feira 12, o Escritório Nacional de Processos Eleitorais do Peru (Onpe) anunciou que o presidente peruano conquistou 49,84%, contra 40,31% de Toledo. Portanto, Fujimori não obteve os 50% necessários para levar na primeira. Toledo comemorou. Vitória sobre as fraudes, vitória sobre o autoritarismo de Fujimori.
Isso porque, dois dias antes, o país se indignou diante de um boletim oficial que suspeitosamente atribuía a Fujimori 55,94% dos votos, contra 49,63% de Toledo. As manobras foram confirmadas pelos agentes eleitorais, que descobriram, por exemplo, cédulas onde não aparecia o nome de Toledo. Nas pesquisas de boca-de-urna, três institutos apontavam o candidato de oposição como vencedor.

A pressão internacional também foi importante para deter a manipulação. A Organização dos Estados Americanos (OEA), que vem acompanhando o processo eleitoral há meses, já havia antevisto as irregularidades do pleito. Segundo a OEA, a maioria das fraudes aconteceu no interior do país. Antes mesmo da votação, os Estados Unidos enviaram uma mensagem às autoridades peruanas ameaçando não reconhecer as eleições, caso não houvesse transparência. No documento, senadores republicanos e democratas insinuaram um possível boicote de instituições internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Justamente os americanos, que sempre apoiaram Fujimori, mesmo ao proclamar um “autogolpe” em 1992, quando resolveu fechar o Congresso. De Bruxelas, a União Européia também mandou seu recado pedindo clareza no mecanismo eleitoral.

Uma catástrofe poderia acontecer no Peru caso fosse confirmada a eleição de Fujimori no primeiro turno. O candidato de oposição já alertava para o perigo de os militares entrarem em ação contra os milhares de manifestantes que foram exigir um basta à corrupção do país. Ao mesmo tempo, as Forças Armadas – que sempre apoiaram Fujimori – encontravam-se diante de um dilema: dependem da comunidade internacional para a compra de armamentos. Temendo que o barril de pólvora explodisse, Toledo convocou a população para manifestações pacíficas em frente ao Hotel Sheraton, em Lima. A Igreja Católica, que é uma importante força política no Peru, também pediu calma. “Pedimos serenidade. Não se trata de conformismo, mas de ponderação e prudência”, afirmou o bispo Luis Bambarden, presidente da Confederação dos Bispos do Peru.
Se o segundo turno está garantido, o mesmo não se pode dizer quanto à ética das próximas eleições. Observadores internacionais advertem para o perigo de mais falcatruas, o que poderá ameaçar a legitimidade do novo governo.

Comunidade internacional ameaçou não reconhecer as eleições presidenciais do Peru caso Alberto Fujimori vencesse na primeira rodada