A corrupção que se alastrou por todo o País e as enormes carências sociais são temas que colocam em uma mesma barca empresários da nata paulista, políticos da situação e da oposição. Uma das mais evidentes provas disso foi o seminário Brasil 2010 – para onde vamos?, promovido pela Associação dos Ex-Alunos da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (ex-GV). “Um terço dos brasileiros acorda sem saber se vai almoçar. Isso significa que a revolução industrial dentro do sistema capitalista não resolveu o problema”, instigou logo na abertura do encontro o empresário Tadeu Masano, presidente da ex-GV.

Índices para ilustrar a tragédia nacional não faltaram na pauta do seminário. Entre eles, um do o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que coloca a taxa de pobreza do País na vergonhosa casa dos 33,9% da população. Ao analisar as tendências para o Brasil nos próximos dez anos, a principal preocupação foi encontrar alternativas para reverter a situação. E na busca de soluções existe pelo menos um consenso, que é investir em educação. “Garantir oito anos de ensino fundamental às crianças tem, sobre a pobreza, um efeito similar ao do crescimento da economia brasileira, durante 15 anos, à taxa de 4,5% ao ano”, comparou o deputado Francisco Graziano (PSDB-SP).

Um dos pioneiros do chamado terceiro setor, o empresário Oded Grajew ressaltou que a educação não pode ser deixada apenas nas mãos do governo. “Meta estratégica para o Brasil, a educação é uma tarefa da sociedade, dos empresários, de quem tem poder neste país”, disse Grajew. “Se cada empresa adotasse um aprendiz, mudaríamos o quadro dramático que temos hoje. É só uma questão de vontade política.” Criador da Fundação Abrinq, Grajew também está à frente do Instituto Ethos, cujo principal objetivo é implementar o conceito de responsabilidade social entre o empresariado. Com apenas 18 meses de existência, o Ethos conta com 260 empresas associadas, que respondem por quase 20% do PIB nacional.

É justamente atrás deste tipo de parceria que se encontra Benedito Duarte, que recém assumiu a presidência da Febem em São Paulo. Lembrando que o Estado tem 3.800 crianças e adolescentes em regime de privação de liberdade, Duarte afirmou no encontro que a meta da instituição para próxima década é ampliar cada vez mais as medidas de semiliberdade e de prestação de serviços. “As empresas podem e devem ajudar neste trabalho de readaptação”, disse Duarte no seminário, que contou com o apoio de ISTOÉ.

Críticas – A inoperância do governo não deixou de ser citada nem no debate sobre a nova ordem na tecnologia e no trabalho. Especialista em recursos humanos, Luiz Carlos Cabrera analisou o problema da baixa estima do funcionário público. “O talento está nas repartições, mas está engessado”, disse Cabrera. “O governo não tem competência para resgatar nestas pessoas o orgulho de trabalhar pelo País. A saída é promover um intenso programa de desenvolvimento, em parceria com as empresas privadas.”

Para Horácio Lafer Piva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a aproximação do setor privado com as causas públicas depende de uma maior clareza por parte do governo. “As empresas se esforçam para suprir lacunas sociais, mas o governo continua tratando o setor privado como um pagador compulsório de impostos”, reclamou. “Dessa forma, estamos comprometendo o futuro de nossa produção. Ficamos mais fracos e isso pode ser visto pela desnacionalização da economia. Nos últimos cinco anos, os estrangeiros compraram 3.500 empresas nacionais”, afirmou.

A reorganização do setor produtivo brasileiro foi abordada no encontro como condição prioritária para que o Brasil pegue o bonde para 2010. Segundo Roberto Lima, presidente do conselho de administração da Credicard, é preciso inserir o País na nova economia que move os países ricos. “Isso significa reduzir a dependência do dinheiro externo, investir em indústrias de tecnologia avançada e formar mão-de-obra qualificada por meio de uma boa educação de base”, sugeriu Lima. Um discurso que tem ecos entre expoentes do tucanato, como o deputado paulista Arnaldo Madeira, líder do governo na Câmara. “As eleições deste ano já vão determinar o rumo que tomaremos para os próximos dez anos”, disse. Entre as suas preocupações está a corrupção generalizada na Prefeitura de São Paulo. “É possível que essa situação nem sequer mude porque não há lideranças interessadas em disputar cargos na cidade para não se vincular ao mar de lama. Essa falta de renovação é comprometedora.”

O cenário também é visto como potencialmente explosivo pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). “O futuro se constrói agora, com democracia, educação e distribuição de renda”, defendeu. Ao conclamar que o social seja a prioridade no País, o senador lembrou o programa de renda mínima, aquele que garante uma complementação no orçamento das famílias que têm receita conjunta inferior a meio salário mínimo. “Não é um caminho fácil, mas é preciso persegui-lo com insistência”, reconheceu. Todo mundo sabe que persistência é o que não falta ao senador, que, como os outros palestrantes, estudou na Fundação Getúlio Vargas.