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Um salão vazio e mergulhado no silêncio vai aos poucos sendo ocupado: gente bonita e gente feia, gente medíocre e gente interessante, todas as pessoas vão entrando nesse ambiente com o desejo de mudar o mundo ou com o desejo de deixá-lo exatamente como está. Cabe à música preencher todos os vácuos – em especial, o que existe entre esses personagens. Para o bem ou para o mal, o baile começa e, assim, uma longa história será contada. Em Le bal, a peça francesa que deu origem ao belíssimo filme homônimo de Ettore Scola, não há texto, ninguém pronuncia uma única palavra nem sequer esboça a menor mímica com a boca. Mas todos entendem o que é descrito através da interpretação dos atores, da música e da reconstituição de época. Esse espetáculo cênico, vertido para o português com o nome de O baile, estreou no Rio de Janeiro no Teatro Sesc Ginástico. E já tem turnê programada em diversas capitais brasileiras.

Por determinação do diretor francês Jean-Claude Penchenat, que detém os direitos da peça, a história contada no espetáculo tem sempre de se adequar ao país no qual ele está sendo encenado. A versão brasileira trata de quatro décadas (1940 a 1980), indo do período em que o Brasil foi governado por Getúlio Vargas até os estertores do regime militar, expondo padrões culturais, sobretudo na música: samba, marchinhas, bossa-nova, jovem guarda, MPB. A parte política é igualmente forte: engloba a inauguração de Brasília, o golpe militar de 64, o AI-5 e o movimento Diretas Já. O baile tem direção de José Possi Neto e roteiro de Valderez Cardoso Gomes, conta com 20 atores que se alternam em diversos papéis e exibe 150 figurinos. A produção é de Tássia Camargo (que também entra em cena) e Guilherme Abrahão.

 

 

 

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Tássia é a maior responsável pelo projeto. “Há sete anos sonho com isso”, diz ela. “Quando cheguei ao teatro e vi a luz e o cenário, tive uma crise de choro. Assim tem sido”, diz ela. O custo total está em torno de R$ 1,4 milhão, sendo que o patrocínio que viabilizou o projeto veio da Petrobras — R$ 700 mil. Tássia ganha salário como todos os outros envolvidos: “Não tenho porcentual, meu presente é realizar o espetáculo.” Os personagens não têm nome, mas marcas. São identificados como “a garota romântica”, “o esquisito”, “a bonitona”, “o enigmático”, “a míope” e assim por diante. O baile mostra também como as pessoas se transmudam, se boicotam e se revelam através de olhares, gestos e sensualidade. Tudo isso sem palavras. Tudo isso com direito a espetacular fundo musical.