Se tiver sorte nessa edição do Oscar, o ator Leonardo DiCaprio poderá ganhar, pela primeira vez, não uma, mas duas estatuetas. Primeiro como ator. DiCaprio concorre como protagonista da comédia dramática “O Lobo de Wall Street”, novo trabalho de Martin Scorsese que ele também produz. Como o longa que estreia no Brasil na sexta-feira 24 é cotado ao prêmio de melhor filme, se for vencedor quem o recebe é o seu produtor, no caso DiCaprio, por meio de sua empresa Appian Way. Mas o páreo não está fácil. Outro ator nunca antes contemplado com um Oscar aparece na lista de favoritos como produtor. Seu nome é Brad Pitt, o cinquentão dourado que agora dá uma de executivo e ajudou a colocar de pé o elogiadíssimo drama histórico “12 Anos de Escravidão” (nove indicações) pela sua produtora, a Plan B. Ironia: de uns tempos para cá, o que era “plano B” na carreira desses astros está se tornando prioridade. É cada vez maior o número de atores da chamada A-list que assumem o papel antes reservado aos poderosos magnatas dos grandes estúdios: o de ter uma boa ideia
e fazer dela um grande filme.

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Algumas das melhores produções em cartaz, como “A Vida Secreta de Walter Mitty”, bancado por Ben Stiller, e “Álbum de Família”, produzido por George Clooney (e dirigido por John Wells, que lançou o ator em “Plantão Médico”), chamam a atenção para essa realidade, que de certa forma vem arejando o cinema americano, hoje voltado basicamente para o blockbuster que nada acrescenta. Prova disso é uma declaração recente de Scorsese. Ele disse à revista americana “Hollywood Reporter” que, não fosse pela sua parceria com DiCaprio (fizeram juntos cinco filmes), já teria abandonado a profissão: “O prazer dele pelo trabalho e a capacidade de correr riscos me animaram novamente.” Ânimo de ambas as partes, diga-se. DiCaprio conseguiu reunir parceiros de peso e chegar ao orçamento de US$ 100 milhões necessários para cobrir seis meses de produção e uma demorada edição que baixou de quatro para três horas a maluca trajetória do investidor americano Jordan Belfort, envolvido numa espiral de drogas, orgias e fraudes financeiras. “Não foi um filme fácil de obter financiamento”, disse o ator e produtor na mesma entrevista, definindo o personagem que interpreta como um “Calígula dos dias de hoje”. Dificuldade parecida teve Brad Pitt na produção de “12 Anos de Escravidão”, concebido com um custo de US$ 30 milhões e realizado quase pela metade desse valor.

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A resistência, no caso, foi devido à violência que domina a história real de Solomon Northup, um negro americano livre, sequestrado e feito escravo em meados do século XIX. Para atrair investidores, Pitt decidiu fazer uma ponta no longa. Mas essa não é a regra. Pela marca Plan B já vieram à luz sucessos como “Troia”, “Comer, Rezar, Amar” e “Guerra Mundial Z”. O roteirista Damon Lindelof, de “Guerra Mundial Z”, nega que o astro esteja apenas preocupado com lucros. “É exatamente o contrário. Ele usa sua influência e notoriedade para fazer filmes que não seriam realizados de outra maneira.” O envolvimento dessas estrelas com o lado nada glamoroso das planilhas de custos mostra uma disposição em assumir as rédeas de um negócio que corre o risco de tornar-se uma linha de montagem. Recentemente, George Clooney bateu boca com o bilionário gestor de fundos Daniel Loeb, quando ele propôs uma governança de resultados para o setor cinematográfico. Clooney, cuja produtora Smokehouse tem um contrato de colaboração com a major Sony Pictures e esteve à frente de “Argo”, acusou o investidor de tentar criar um clima de insegurança para que os estúdios só deem sinal verde aos blockbusters (Loeb tem 7% das ações da Sony). De fato, para os atores, ainda comprometidos com o lado criativo de seu trabalho, o piloto automático hollywoodiano não é nada atraente. “Minha motivação ao produzir filmes é encontrar um bom material que não estava recebendo dos grandes estúdios”, afirma DiCaprio. Mesmo que, para isso, tenha que brigar com colegas que compartilham dos mesmos ideais. Ele e Pitt, por exemplo, vivem disputando boas histórias. Aconteceu com os direitos de filmagem de “Guerra Mundial Z” (venceu Pitt), deu-se novamente agora com “O Lobo de Wall Street” (ponto para DiCaprio). Na noite do Oscar, em março, a queda de braço vai se repetir.

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Fotos: Bobby Bank/WireImage; Claire Folger/ap; Mary Cybulski