O morador de São Paulo tem muitos motivos para se preocupar quando nuvens escuras cobrem a capital, em um prenúncio das típicas tempestades de verão que castigam a cidade. Além das enchentes, dos deslizamentos e das infalíveis quedas de energia, os semáforos viram equipamentos inúteis em cruzamentos importantes. Em uma noite de chuva forte, centenas deles costumam falhar, pondo em risco a segurança de milhares de motoristas e contribuindo para complicar ainda mais o já caótico trânsito. Nesse cenário, os paulistanos se perguntam por que os radares, responsáveis pela maior parte dos dez milhões de multas aplicadas na cidade em 2013, são, por outro lado, um exemplo de eficiência: arrecadaram quase R$ 1 bilhão no ano.

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NÓ URBANO
Semáforo quebrado tranca cruzamento na zona
oeste de São Paulo no último dia 12

“Acontece que os radares sempre tiveram manutenção e os semáforos não”, diz o secretário municipal dos transportes, Jilmar Tatto. Segundo especialistas consultados por ISTOÉ, muitos dos cerca de 6.000 sinais de trânsito da cidade possuem tecnologia da década de 1980. A fiação, exposta em um desorganizado emaranhado, é suscetível a curtos-circuitos causados pela umidade. Além disso, os equipamentos que possuem o chamado no-break (baterias de emergência) são minoria. Os demais deixam de funcionar quando o fornecimento de eletricidade da rua é interrompido, ao contrário do que acontece com os novos radares (confira quadro). “Há um problema básico de alimentação”, afirma Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP. “É tudo aéreo, os cabos ficam expostos à intempérie.”

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TEMPO PERDIDO
Identificação de sinais com problemas depende de agentes de trânsito

De acordo com a Prefeitura de São Paulo, um trabalho de recuperação e substituição dos sinais de trânsito começou em agosto de 2013, após seis meses de estudos que detectaram a necessidade urgente de manutenção em 4.800 cruzamentos. O aterramento de fios, a automatização de controladores e a instalação de dispositivos de proteção elétrica estão entre as medidas adotadas. “Nosso levantamento diz que a colocação de no-breaks reduz em 70% as ocorrências em semáforos”, afirma Tatto. Até o fim do ano passado, 2.003 cruzamentos haviam sido revitalizados e 440 no-breaks instalados. Um número que parece imperceptível na selva paulistana. Na terça-feira 15, por exemplo, bastaram alguns minutos de chuva para que centenas de semáfaros se tornassem inoperantes.

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O plano de modernização dos semáforos paulistanos vai custar R$ 220 milhões e deve ser concluído em 2016. Esse valor também contempla a contratação de empresas terceirizadas para realizar a manutenção periódica e emergencial dos aparelhos. Segundo a administração municipal, em caso de falha, as equipes terão prazo máximo de duas horas para resolver o problema. Se os recursos das multas provenientes dos radares que nunca quebram fossem aplicados na melhoria do trânsito paulistano, é bastante provável que o problema se resolvesse bem antes de 2016.

Fotos: AULO PRETO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADãO CONTEÚDO