Há cerca de um mês ele chegou como uma brisa de verão, suave e quase imperceptível. Porém, Alejandro Toledo, o candidato às eleições presidenciais peruanas que acontecem no domingo 9, está agora mais para um furacão. Seus ventos fortes balançaram até o então inabalável Alberto Fujimori, no poder há dez anos. Toledo, 54 anos, candidato oposicionista do partido Peru Possível, terminou sua campanha eleitoral na terça-feira 4 com multidões gritando seu nome em Lima como o único dos 12 candidatos que poderá levar Fujimori a um segundo turno: aparece nas pesquisas com 40% dos votos, contra 45% de seu maior rival.
Um das razões para sua inesperada conquista no pódio presidencial é sua origem indígena.

Assim como Fujimori, que conquistou as classes desfavorecidas há uma década com um discurso populista, criticando a elite branca de origem espanhola, Toledo, descendente de indígenas, representa a imagem mais próxima do cholo – o mestiço de branco e índio que é maioria na população peruana. Um dos 16 filhos de um camponês, Toledo foi engraxate na infância. Na adolescência, mudou-se para a Califórnia e cursou Economia na Universidade de San Francisco. Depois fez doutorado na renomada Universidade de Standford, onde conheceu sua mulher, Eliane Karp, 41 anos. “Toledo representa os arquétipos do trabalhador rural andino, que não apenas transpôs as barreiras do analfabetismo como casou-se com uma mulher loira e moderna”, afirmou o antropólogo peruano Juan Rossio sobre a visão estereotipada do casal de sucesso. O oposicionista foi direto na ferida do governo Fujimori: o desemprego. Ele conquistou a simpatia dos oito milhões de cholos que abandonaram o campo e migraram para as grandes cidades com promessas de emprego e de um programa agrícola que irá tirar o país do buraco econômico.

A imagem do homem vitorioso é reforçada por outro estereótipo: atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher. A grande mulher, no caso, é Eliane Karp. Assim como a rainha Noor, da Jordânia, que renunciou ao seu passado de americana para abraçar a cultura do islamismo, Eliane mergulhou na vida cotidiana dos peruanos. Aos 41 anos, ela fala sete idiomas – entre eles a principal língua indígena do país, o quíchua. A belga naturalizada americana também arregaça as mangas e trabalha dez horas por dia em uma instituição financeira na capital peruana. Eliane chegou ao Peru aos 20 anos e trabalhou em várias instituições de desenvolvimento nas regiões mais pobres do país. “Sou mais peruana nos gostos e no conhecimento do que as próprias mulheres nascidas no Peru. Deixei minha família e cultura para trás para seguir Alejandro”, declarou.

Uma tática de campanha usada para atacar o casal perfeito foi a declaração de que Alejandro Toledo teve uma filha fora do casamento. Sarahí Toledo Orozco, 12 anos, foi alvo dos partidários de Fujimori.

O responsável pela divulgação da filha de Toledo é o homem forte do governo Fujimori, Vladimiro Montesinos, um misterioso ex-capitão do Exército que é acusado de ter vendido segredos do governo peruano à CIA em 1977. Montesinos controla o grande trunfo do presidente peruano: o Serviço de Inteligência Nacional. Longe dos holofotes, Montesinos articula as peças do xadrez com admirável mobilidade. Ele realizou operações de sucesso para garantir Fujimori no poder, como o fechamento do Congresso e da Suprema Corte em 1992 e o afastamento dos oposicionistas nas eleições de 1995.

Perigo de fraude – O ex-capitão, que foi um aliado de Clinton no combate ao narcotráfico, agora parece montar um esquema para fraudar as eleições. A Organização dos Estados Americanos (OEA) ameaçou não reconhecer as eleições, afirmando que há grandes deficiências no sistema eleitoral peruano. Entre as acusações está o cadastramento ilícito do partido de Fujimori. Toledo afirmou que houve 30% de fraude em lugares onde não se verificou a presença de observadores. Ele chegou a pedir às Forças Armadas – aliadas a Fujiomori – que não apoiem as eleições caso haja falcatruas. “Se houver fraude, teremos um presidente sem legitimidade, o que causará uma instabilidade política e consequentemente freará a reação que o Peru precisa ter na economia e na geração de empregos”, afirmou Toledo.

Os caras-pintadas peruanos não gostaram das denúncias e foram às ruas pedir transparência na votação. A luta contra a corrupção é apenas um dos fatores centrais que o próximo presidente vai ter que enfrentar. O autoritarismo fujimorista deu um fim ao terrorismo, mas os problemas econômicos e o abismo social permaneceram.