Os pés dos brasileiros têm menos conforto e mais problemas do que se poderia imaginar. Uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, com apoio da Janssen-Cilag Farmacêutica, com 33,5 mil pessoas de várias idades no País revelou que 65,4% dos entrevistados tinham algum tipo de doença nos pés. Os grandes vilões são as infecções fúngicas (as populares micoses), seguidas pelas alergias, calos, joanetes e unhas encravadas. Felizmente, a maioria dos problemas tem tratamento e cura.

Já existem, por exemplo, potentes medicamentos antifúngicos locais ou tomados por via oral para vencer os fungos dermatófitos, causadores das micoses. Os fungos adoram ambientes quentes e úmidos, como as pocinhas de água em volta da piscina ou no vestiário da academia. Eles se instalam de preferência nas dobrinhas da pele, como os espaços entre os dedos, quando o sistema de defesa do organismo enfraquece. Machucados e inflamações na pele ao redor das unhas, além de doer, facilitam a entrada desses invasores. Problemas nas unhas, aliás, representam cerca de 20% das queixas relacionadas aos pés no consultório da dermatologista paulista Ana Lúcia Récio.

Mas procurar o médico para cuidar da saúde da dupla que sustenta o corpo não faz parte da rotina. “A pesquisa mostrou que as pessoas se envergonham de ir ao médico por causa de uma coceirinha nos pés”, conta Sérgio Bartczak, diretor-médico da Janssen Cilag. É um erro porque, sem tratamento, problemas como calos e micoses podem se agravar e causar muito desconforto. No entanto, muita gente se habitua a chateações como sofrer com o mau cheiro dos pés (bromidrose) sem pensar que uma consulta com o dermatologista pode eliminar o problema. Provocado pela decomposição do suor pelas bactérias, o odor ruim dos pés pode ser vencido com medidas para redobrar a higiene local. A sugestão é lavar e secar os pés diversas vezes ao dia, usar sabonetes e talco bactericida (para meias e sapatos), mudar diariamente as meias (de algodão, porque absorvem melhor o suor) e os sapatos. “Funciona, mas precisa fazer sempre”, ressalta o dermatologista Arone Pesce.

Às vezes, a solução para problemas antigos, como a unha encravada, está nos podólogos – profissionais que ensinam a cortar corretamente as unhas, usam técnicas para desencravá-las e acertar a curvatura, além de tirar calos. Foi com esses profissionais que o ginecologista Henrique Oti Shinomata, de São Paulo, resolveu um problema de unha encravada que aturou durante anos. “Devia ter procurado ajuda antes. Hoje não vivo sem cuidar dos pés”, diz.

O podólogo que tratou de Shinomata, José Domingues, da Podoclin, acredita que o bom profissional precisa saber a hora de encaminhar o cliente para o médico. Ele sabe o que faz. “Se os calos voltarem mais de uma vez, podem estar associados a problemas mecânicos nos pés”, explica o ortopedista Antônio Carvalho Júnior, chefe do Grupo de Pés do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O cuidado com os pés deve começar na infância. “Quanto antes as pessoas procurarem ajuda, melhor”, diz a dermatologista Ana Lúcia. Como não é o que acontece, os adultos pagam um preço alto por não corrigir deformidades e atitudes posturais que podem levar ao desenvolvimento de joanetes, por exemplo. Nesse caso, procurar o dermatologista quando os sintomas aparecem – principalmente dor – é a melhor atitude, porque assim o especialista pode lançar mão de vários recursos, como medicamentos e até palmilhas para retificar o apoio dos pés, evitando as cirurgias, reservadas para casos mais graves. Os médicos indicam também cuidados básicos, como enxugar bem os vãos entre os dedos. “Não se deve ter pressa ou preguiça de cuidar dos pés. Eles devolvem a atenção na forma de conforto”, garante o dermatologista Arone Pesce.