Foi uma semana nervosa para o mercado financeiro internacional. Na última segunda-feira, o disparo extra de adrenalina foi provocado pela violenta queda da Nasdaq (em inglês, National Association of Securities Dealers Automated Quotation), a Bolsa eletrônica que concentra as ações das empresas de tecnologia nos Estados Unidos. Apenas naquele dia, a Nasdaq caiu 7,62% e fez sumir do mapa algo em torno de US$ 350 bilhões. O estopim disso foi a condenação da Microsoft no processo antitruste que o governo americano move contra a empresa. Na avaliação da maioria dos especialistas, porém, o evento da Microsoft foi apenas o empurrão que faltava para que as ações de tecnologia rolassem ladeira abaixo. “Isso fez parte de um processo de acomodação natural das ações que estavam supervalorizadas”, diz Alberto Serrentino, sócio-diretor da consultoria Gouveia de Souza & MD.

Esse fenômeno foi comprovado ao longo da semana. O mercado acionário americano continuou instável, mas com menos intensidade. Na quarta-feira, por exemplo, a Nasdaq ficou num sobe-e-desce e acabou fechando em alta de 0,49%. Um dos motivos dessa recuperação foi o resultado financeiro do Yahoo!, que teve seu lucro mais que triplicado no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 1999, superando as expectativas do mercado. O faturamento do Yahoo! subiu 120%, de US$ 103,9 milhões para US$ 228,4 milhões. De qualquer forma, as oscilações da Nasdaq culminaram num efeito dominó que acabou derrubando as Bolsas do mundo inteiro.

No Brasil, o índice Bovespa, que reúne as ações mais negociadas na Bolsa paulista, caiu 3,22%. Aí vem a pergunta. Por que a Bovespa acompanhou a montanha-russa do Nasdaq se os índices das duas Bolsas são compostos por empresas completamente diferentes? Não há Amazon ou Yahoo! no pregão brasileiro, mas as curvas de desempenho das duas praças caminharam de mãos dadas. Uma explicação possível, além do forte componente psicológico, está na presença de ações de empresas de telecomunicações no índice Bovespa.

“Há um modismo de investimento em companhias de alta tecnologia e, no Brasil, elas são as que mais se aproximam, principalmente as de telefonia celular”, avalia Daniel Baldin, analista da Fator-Doria Atherino. Empresas como a Telesp Celular, cujas ações caíram 8% nesta semana, acompanharam a queda média da Nasdaq de 7%. A existência de um modismo, e não de uma lógica que obrigue os índices a ter uma correlação estatística, é algo que deverá sumir com o tempo, segundo Eduardo Novo, diretor da Associação Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid). “O que acontece nos Estados Unidos reflete em todo o mundo, mas não pode haver tamanha semelhança entre os índices. Isso vai acabar conforme o amadurecimento do mercado brasileiro”, afirma. Enquanto isso não acontece, o Brasil deverá continuar seguindo os passos vacilantes da Nasdaq.

A preocupação com o fenômeno da nova economia nos Estados Unidos reuniu, na quarta-feira 5 na Casa Branca, sede do governo americano, os dois Bills mais importantes do mundo: o presidente Bill Clinton e o dono da Microsoft, Bill Gates. A nova economia na era da informação foi o tema de uma série de debates que contou com a presença de economistas, professores universitários e membros do governo americano. Um dos discursos mais aguardados foi o do presidente do FED, o banco central americano, Alan Greenspan. Ele acalmou os ânimos do mercado ao afirmar que a tendência é que o setor tecnológico continue em expansão.

Na sua vez, Bill Gates falou apenas sobre como a revolução tecnológica aumentou o acesso das pessoas ao computador. Ele não disse nenhuma palavra sobre a briga que trava na Justiça contra o governo americano. Sabe-se, porém, que a decisão do juiz federal Thomas Penfield Jackson deve acelerar a etapa final do processo e as punições para a companhia (que podem culminar até na divisão da Microsoft em várias empresas) devem sair em 60 dias. A Microsoft já avisou que vai apelar. “Temos certeza de que vamos vencer esse processo”, afirmou o diretor jurídico da empresa, Luiz Setti.

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