A solução para o tão decantado aquecimento global pode estar num verdadeiro “balde de água fria”. A tese é do renomado químico holandês Paul Crutzen, professor na Alemanha do Max- Planck Institute for Chemistry e prêmio Nobel por seus estudos sobre a formação e decomposição do ozônio na atmosfera terrestre. Segundo Crutzen, em um ano teríamos as mesmas condições ambientais de três décadas atrás se o seu método fosse seguido: cobrir a atmosfera com uma camada de enxofre para que ela reflita os raios solares e, assim, abrande o aquecimento. Essa injeção de partículas de enxofre, mais precisamente na estratosfera (a mais alta camada da atmosfera), resfriaria o planeta e daria tempo para os seres humanos reduzirem as emissões de gases causadores do efeito estufa – o enxofre não seria, dessa forma, uma solução em si, mas funcionaria como um potente redutor de danos. As suas partículas seriam despejadas por balões de alta altitude ou lançadas à camada estratosférica por uma artilharia pesada. Uma vez espalhadas pelo ar, elas funcionariam como minúsculos espelhos mandando a luz do sol de volta para o espaço. Perderíamos o azul do céu, mas ganharíamos vida. Crutzen calcula que a emissão necessária de enxofre, com efeito programado para dois anos, custe entre US$ 25 bilhões e US$ 50 bilhões.

A fonte inspiradora desse projeto é natural e chama-se vulcão Mount Pinatubo, que entrou em erupção nas Filipinas em 1991. Àquela época, ele lançou toneladas de cinzas, gases e outros materiais a grandes altitudes. Ao pesquisar como essa erupção afetou o clima global, o cientista transformou a catástrofe em instrumento para ampliar o seu conhecimento. Foi então que os pesquisadores da equipe de Crutzen descobriram que a pluma de enxofre lançada pelo Mount Pinatubo esfriou a Terra em 0,9 grau Fahrenheit (0,5 grau Celsius) no ano seguinte à sua erupção. O estudo utiliza a informação oficial da ONU de que nos últimos 30 anos a temperatura da Terra aumentou 0,6 grau Celsius, sendo possível, portanto, reverter o aquecimento global para as condições que ele apresentava no final dos anos 70. “Com muito menos enxofre do que o que foi lançado pelo vulcão, poderemos resfriar a Terra”, diz Crutzen. “É aritmético, uma questão de fazermos as contas.”

FABRIZIO VILLA/AP/IMAGEPLUS/ RICHARD BOUHET/REUTERS/ ANTARA/RRETERS

A proposta revolucionária para se combater o aquecimento global ganha cada vez mais adeptos na comunidade científica – e eles se debruçam sobre o chamado “Projeto Enxofre” na tentativa de salvar a Terra. Todos integram o coro de que é preciso tirá-lo o quanto antes do papel e colocá-lo em prática. Crutzen é um sonhador e apenas um sonhador? Não, a julgar pelo entusiasmo de pares. “Vamos utilizar esse evento abrupto de lançamento de enxofre como um experimento natural. Podemos observar como a atmosfera responde a isso”, diz a climatologista americana Joanna Futyan, da Universidade de Colúmbia. Outro entusiasta é o físico John Harries, do Imperial College, de Londres. Ele pesquisou sobre a resposta da atmosfera à erupção do vulcão Mount Pinatubo e descobriu que a reação foi rápida e positiva. As partículas de enxofre expelidas pelo vulcão bloquearam a luz solar e de fato resfriaram o planeta. “Em seis meses, irradiou-se menos calor ao espaço após a erupção do Pinatubo. Temos aí, sem dúvida, uma alternativa para a questão do aquecimento global”, diz Harries. Para o químico americano Mark Thiemens, da Universidade da Califórnia, as erupções vulcânicas são uma pista para solucionar o grande problema ambiental do século: “A natureza é o mais maravilhoso e preciso laboratório de que dispomos. Ela nos dá de presente alguns dos mais importantes experimentos, mas precisamos aprender a observá- los com mais atenção para imitálos no que têm de bom.”

ARTE FERNANDO BRUM COM FOTO DE TODD BIGELOW/AURORA

O PEQUENO GRANDE PREDADOR
Como o besouro tem aumentado o efeito estufa

Difícil acreditar que um inseto, do tamanho de um grão de arroz, possa alterar o clima do planeta. Pois acredite. O besourodo- pinheiro (Dendroctonus ponderosae) está transformando as florestas da região noroeste do Canadá em grandes emissoras de gás carbônico – o vilão ambiental causador do efeito estufa. É a primeira vez que o impacto dessa praga é calculado e o resultado impressiona: o besouro está causando o lançamento da mesma quantidade de CO2 que o Brasil emite anualmente, ou seja, cerca de 270 milhões de toneladas.

CAOS O inseto consegue poluir tanto quanto um país inteiro

A vida e o “trabalho” desse inseto têm sido favorecidos pelas temperaturas cada vez mais altas na região. É um círculo vicioso no qual o besouro faz a festa: quanto mais quente, mais ele vive, e quanto mais vive, mais devasta e leva ao aquecimento.

Antes limitado em seu habitat pelas baixas temperaturas, agora ele encontra a situação inversa, o que está potencializando a mudança climática. O inseto deposita seus ovos sob a casca do pinheiro, apodrecendo a árvore. A decomposição libera gás carbônico na atmosfera e transforma cenários inteiros em pura devastação, tirando o verde da floresta e permanecendo o vermelho do tronco de árvores apodrecidas.