Os exportadores brasileiros estão carregando seus navios com os produtos errados. Em vez de embarcar softwares, equipamentos de telecomunicações, computadores e alumínio para os outros países, o Brasil insiste em oferecer minério de ferro, tabaco e automóveis. Esse erro de enfoque é apontado por um estudo feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), segundo o qual só 29% de nossa pauta de exportações é composta pelos produtos mais disputados no mercado internacional. Outros 51% dessa lista são produtos cujo ritmo de vendas está estagnado. Pior do que isso são as oportunidades perdidas. Dos 275 itens da pauta, 20% têm grande aceitação lá fora, mas são mal explorados, por falta de competência privada e pública.

O comércio de frutas é um exemplo. As vendas brasileiras vêm crescendo muito. Somente entre 1997 e 1999 o aumento foi de 49%, chegando a US$ 162 milhões, mas a participação das frutas brasileiras no mercado internacional cresceu menos do que a média mundial: 4,6% contra 6,7%. “Isso indica que poderíamos exportar mais, pois o mercado está receptivo”, diz Roberto Giannetti da Fonseca, secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Produção não falta. Só no vale do rio São Francisco, no Nordeste, produzem-se 700 mil toneladas de frutas, mas só 39 mil toneladas são exportadas. Um dos entraves à venda externa é a falta de armazéns com alfândega na região. O mais próximo fica em Belém.
Mas há também obstáculos culturais. O empresário brasileiro não pensa na exportação como um negócio permanente. “A idéia mais aceita no País considera que exportar é desovar aquele excedente de produção que não encontra colocação no mercado doméstico”, define Nildo Masini, dono da Minter, terceira maior trading (firma de exportação e importação) brasileira.
Na busca por resultados imediatos, exportador e governo não se esforçam em consolidar a marca Made in Brazil no Exterior. “Falta investimento em marketing”, diz Giannetti da Fonseca.

A soma desses fatores explica por que as exportações mundiais cresceram em média 7,8% nos últimos 18 anos, enquanto o Brasil parou nos 5,9%. A Malásia, por exemplo, é a maior exportadora de chips do mundo e tem 53% de sua pauta composta por produtos de grande aceitação no comércio mundial. Outro exemplo: o México, que duplicou para US$ 120 bilhões em três anos o seu faturamento em exportações, com alimentos e produtos eletrônicos, tem 70% de sua pauta tomada pelos produtos mais dinâmicos.