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Ainda existem dezenas de personagens de quadrinhos à espera de uma oportunidade no cinema. Mas agora os heróis de papel têm de brigar por esse espaço com outros concorrentes – os brinquedos de plástico. A julgar pela arrasadora estréia americana de Transformers, filme de ação que leva para as telas aqueles carrinhos que se desdobram em robôs, a concorrência ficou feia. Na sua primeira semana de exibição nos EUA, o filme (chega aos cinemas do Brasil no dia 20 num megalançamento de mais de 500 cópias) faturou US$ 152,5 milhões. Ou seja, já se pagou (custou US$ 147 milhões) e daqui para a frente o que vier é lucro. De olho nesse filão, novos filmes baseados em bonecos estão sendo anunciados: Bratz, baseado em quatro bonecas “apaixonadas pela moda” (previsto para novembro), e G.I. Joe, ainda em pré-produção e no qual Mark Wahlberg vai interpretar o famoso soldadinho americano criado nos anos 40 para insuflar o sentimento patriótico. Essa tendência abraça também outros brinquedos e há quem diga em Hollywood que o diretor inglês Ridley Scott está à frente de um projeto no mínimo curioso: a transformação em filme do famoso jogo Banco Imobiliário.

 

As mentes mais fantasiosas andam cismadas: o que o diretor de Blade runner – caçador de andróides e Gladiador vai fazer com o jogo mais vendido da história? Tomando como base aquilo que se vê em Transformers, tudo é possível no cinema dominado pelos efeitos especiais. Vale lembrarmos daquele simpático fusca que falava. Pois bem, no novo filme os carros não apenas falam, mas viram gigantescas criaturas que provocam tremores a cada passo e brigam como lutadores de valetudo. E que briga. Feitos com milhares de peças e encaixes de metal, os seus golpes estraçalham paredes inteiras. Assistir a uma briga dessas equivale a ver uma disputa entre um trator e uma grua. Os robôs estão em luta porque precisam tomar posse de um cubo de energia chamado Allspark. Explica-se: essas máquinas gigantescas são, na verdade, alienígenas. Elas vieram de um planeta chamado Cybertron depois que uma guerra fratricida ameaçou a sua existência e aqui se mimetizaram em automóveis. De um lado estão os robôs do bem, os Autobots; do outro, os do mal, chamados Decepticons. Esses últimos querem o Allspark para dominar o universo. Trata-se, portanto, de mais uma guerra maniqueísta, dessas que sempre fizeram o sucesso do cinema-pipoca.

 

 

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Como o nome por trás dessa extravagância cinematográfica é Steven Spielberg, no caso como produtor-executivo, o resultado é bem acima da média. Mais voltado atualmente para o cinema adulto, Spielberg sempre encontra uma desculpa para retornar ao universo infanto-juvenil – que lhe é bem mais rentável. “Era eu quem colecionava os brinquedos de meus filhos e ficava imaginando quando a fabricante Hasbro os transformaria num grande filme”, diz ele. Dirigido por Michael Bay, o filme surpreende pelo enredo imaginativo e bem costurado. Além dos robôs, a história tem personagens de carne e osso, mesmo porque ninguém suportaria passar quase duas horas e meia vendo máquinas falantes e brigonas. A história começa com um presente ganho pelo adolescente Sam Witwicky (Shia Labeouf) – um Chevrolet Camaro amarelo. Na primeira volta que dá com a colega de escola Mikaela (Megan Fox), Sam percebe que o carro não é normal: além de escolher sozinho as músicas do rádio, ele se autodirige. A maior surpresa se dá quando o veículo tem uma espécie de “convulsão mecânica” e se transforma em um robô de cinco metros de altura. Na classe dos Autobots, ele leva o nome de Bumblebee. Os seus parceiros são, entre outros, Optimus Prime (o chefão que se torna um caminhão turbinado) e Ironhide (que tem lança-chamas nos braços e disfarça-se numa picape). Do lado dos vilões, o mais poderoso é Megatron, que estava congelado no pólo, foi descoberto pelo tataravó de Sam e, por isso, o garoto se torna um alvo certo: ele pode ter pistas do paradeiro do tal Allspark.

O enredo mistura os conflitos no Oriente Médio com viagens espaciais e tem até lugar para uma ligeira crítica à política militarista americana, com o Exército e o FBI sempre metendo o nariz onde não são chamados. Mas o que tem arrastado multidões aos cinemas são os efeitos especiais a cargo da Industrial Light & Magic, de George Lucas: cada frame de efeitos especiais usados no movimento dos robôs levou 38 horas para ser construído. Para ter uma idéia do trabalho que os bonecões deram aos artistas gráficos, basta o exemplo de Optimus Prime: seu movimento é uma orquestração de dez mil peças articuláveis. Criados em 1984, os bonecos Transformers foram adaptados de brinquedos japoneses da fábrica Takara. No Japão eles não tinham nomes nem personalidades, mas no mercado americano os fabricantes sentiram a necessidade de humanizá-los – contrataram Jim Shooter, editor da Marvel Comics, para criar uma genealogia da raça robótica. Foi ele quem inventou essa moda de Cybertron e Allspark. Como se vivia o inicio da crise do petróleo, Shooter imaginou que, ao chegar à Terra, os Autobots e Decepticons deveriam adquirir o formato de automóveis. “Eles estavam em busca de algo originado da mesma crise de energia em que vivíamos, o combustível”, diz Shooter. Como a continuação do filme já está engatilhada, só falta agora eles virarem flex.