Brincadeiras e trotes entre autoridades e parlamentares em Brasília são mais frequentes do que se imagina. Há pouco mais de dois anos, o deputado Heráclito Fortes (PFL-PI), vice-presidente do Congresso, distribuiu barras de chocolate aos colegas. Só não disse que a guloseima era também um poderoso laxante. A vítima mais afoita foi o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), um baiano gordinho que passou horas correndo entre o plenário da Câmara e o banheiro de seu gabinete. Descoberto o trote, o deputado ficou um bom tempo rompido com o colega. Agora que é líder do PMDB, Geddel Vieira Lima voltou ao velho bom humor. Na reunião em que foi anunciado o novo salário mínimo, no último dia 23, ele surpreendeu o presidente Fernando Henrique Cardoso com um inesperado acesso de risos. Acabara de saber de um novo trote que está divertindo a cúpula do poder em Brasília. A vítima é avisada de que um certo doutor Gallo, tratado com intimidade por “Galinho”, telefonou e deixou o número pedindo retorno urgente. Quando o incauto procura o “doutor” pelo sobrenome avícola no diminutivo, começa a ouvir uma gravação com 40 segundos de pura pornografia. “Eu já falei que meu nome é José Gallo, doutor José Gallo, galinha é a mãe”, deslancha a gravação feita por um homem com forte sotaque nordestino.

O trote foi aplicado no Congresso e em ministros até chegar à reunião do salário mínimo. Enquanto ministros e parlamentares governistas esperavam a chegada do presidente Fernando Henrique, o líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), fez da brincadeira uma forma de passar o tempo. Aplicou o trote no secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira. O articulador político do presidente ouviu a mensagem e caiu na gargalhada. Soube que Virgílio acabara de dar o golpe no líder do PSDB, Aécio Neves, que também não parava de rir. O ministro sugeriu que a próxima vítima fosse o sisudo colega da pasta do Desenvolvimento, Alcides Tápias. Religioso e avesso a palavrões, Tápias atendeu ao telefonema e resmungou que não estava entendendo nada. Gargalhada geral.

Mas o Gallo desbocado terminou provocando mal-estar na reunião. O encontro era uma mera formalidade, porque todos já sabiam qual a proposta do governo. Sem ter muito em que prestar atenção, o líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), já não aguentava o discurso do ministro do Trabalho, Francisco Dornelles. Resolveu afastar o tédio e, no meio da reunião, escreveu um bilhete ao amigo Geddel dizendo que Dornelles precisava “ouvir os conselhos do doutor Gallo”. Geddel desabou a rir. Barbalho começou a balançar sem jeito na cadeira até que, desconfiado, o presidente Fernando Henrique se armou da cara feia para os colegas de mesa, imaginando que as risadas faziam parte de uma nova reação política à proposta do mínimo. Informado, depois, do que se tratava, FHC não gostou. Estava de mau humor.