Com Rubens Barrichello na Ferrari, a Fórmula 1 tem de novo a oportunidade de ver prosseguir a tradição de vitórias de pilotos brasileiros na categoria mais sofisticada do automobilismo. Os brasileiros já ganharam oito títulos mundiais. Émerson Fittipaldi abriu a porteira em 1972 e repetiu a dose em 74 na equipe inglesa Lotus. Nelson Piquet ganhou em 81 e 83 com a Brabham e em 87 com a Williams. E Ayrton Senna maravilhou o mundo das corridas ganhando em 88, 90 e 91 com a McLaren.

Depois da morte de Senna em Ímola em 94, Barrichello passou um longo inferno astral enfiado em cockpits de carros de qualidade precária. Em 95, por exemplo, pilotava uma Jordan, por ele definida como uma banheira. Não fosse isso suficiente, todo esse tempo ele carregou a bordo o peso extra das exageradas expectativas brasileiras de ter um substituto para o insubstituível Ayrton Senna. Tudo isso agravado pelas características brasileiras cujos humores vão da idolatria histérica à execração sem perdão, fruto de uma baixa estima crônica. É necessário notar que ele usou e abusou do pedal do acelerador para toda essa bagunça: suas declarações infelizes e sua ingenuidade no trato com a mídia atrapalharam quase tanto quanto os parcos recursos dos carros que ele pilotava. Daí a ser cruelmente conhecido como o Rubinho Pé-de-Chinelo foi um passo.

O Barrichello da Ferrari é diferente. Não só o carro está longe de ser uma banheira como a postura do piloto é bem mais contida e sua relação com os ávidos jornalistas é bem mais esperta. E em outubro de 98, quando ainda estava na equipe Stewart, Barrichello deu uma entrevista a ISTOÉ em que declarou: “Se eu sentar numa Ferrari ao lado de Schumacher, sei que deve existir um jeito de batê-lo, desde que haja igualdade de condições.” A corrida da Austrália, que inaugurou o campeonato deste ano, mostrou que Barrichello não está muito longe da verdade.

As sagas da Ferrari e de Barrichello são contadas a partir da pág. 100 pelos jornalistas Marini e Vanucchi. Avanti, Ferrari! Avanti, Barrichello!