FIM DA GUERRA Tela do pintor holandês Bartholomeus van der Helst retrata a celebração do Tratado de Westfalia, em 1648. Cerca de 200 soberanos reuniram-se no evento que marcou o fim do poder imperial da Igreja sobre os Estados

Já se passaram três séculos desde que o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) expôs em seu livro Leviatã que as autoridades e os reis vivem em permanente estado de guerra de todos contra todos: "Estão em situação e atitude de gladiadores, com as armas assestadas, cada um de olhos fixos no outro." Ele escreveu isso três anos depois da assinatura do Tratado de Paz de Westfalia (1648), ou seja, num raro momento histórico em que as cidades européias beligerantes se reuniram com a intenção declarada de criar uma ordem estável com o término da Guerra dos Trinta Anos. Pois bem, o conhecido pessimismo de Hobbes, que é um dos mais importantes pensadores políticos do mundo moderno, paira sobre a humanidade como uma maldição, e a sua convicção sobre a inevitabilidade das guerras se confirma século após século.

"Será que temos feito esforços adequados para manter a paz entre nações e a habitabilidade desse nosso abrigo comum?", indaga o sociólogo Demétrio Magnoli na apresentação do livro História da paz (Contexto, 448 págs., R$ 49), ecoando as idéias de Hobbes. Mais do que procurar respostas a essa questão, a coletânea de ensaios reconstitui os fatos que ajudaram a moldar o planeta do modo como nós o conhecemos hoje. O leitor salta de marcos como a divisão do Novo Mundo entre Espanha e Portugal, ratificada pelo Tratado de Tordesilhas, em 1494, para acordos multilaterais travados entre autoridades, como o Congresso de Viena e o Tratado de Versalhes. Chega-se assim aos dias de hoje, com os desafios propostos pelas armas nucleares e o desequilíbrio ambiental.

Organizado por Magnoli, cada capítulo do livro foi escrito por um autor, entre eles o próprio sociólogo. Mais: estão presentes o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), o economista Celso Lafer, a historiadora Elaine Senise Barbosa e o filósofo Roberto Romano. Essa obra faz justamente um contraponto a História das guerras, lançado em 2006 pela mesma editora. Ao se voltar aos sucessivos pactos para a reorganização do poder no mundo moderno, os artigos fornecem ao leitor, numa agradável leitura, subsídios para a compreensão de algumas tragédias modernas sem serem excessivamente acadêmicos e muito menos ingênuos ou simplistas. Os estudos contextualizam as iniciativas que resultaram em acordos importantes, como o tratado contra a proliferação de armas nucleares definido pelo Conselho de Segurança da ONU, em 1968, ou o Tratado de Kyoto, de 1997. E pontuam outros pactos firmados no passado que, em vez de amenizarem, contribuíram para incendiar a situação no Oriente Médio. Isso tudo para concluir, como pensava o ex-chanceler alemão Otto von Bismarck (1815- 1898), que a paz, como a política, é a arte do possível.