Pense rápido: em qual lanchonete você pede um hambúrguer duplo, acompanhado de uma porção de batatas fritas e um refrigerante extragrande, tudo embalado em caixinhas e copos de papelão vermelho com logotipo amarelo? Se preferir, pode ainda pegar sua refeição sem sair do carro, seguindo por um caminho chamado drive-thru. Se você pensou que esse lugar é o McDonald’s, procure por um M amarelo em algum lugar, mas, se em vez disso você encontrar a caricatura de um gênio gorducho e de chapéu vermelho, não

se espante: você estará dentro de uma loja Habib’s. Essa é a intenção dessa cadeia brasileira de comida árabe, que está copiando sem a menor cerimônia os padrões da maior rede de fast-food do mundo.
Do cardápio original, formado por pratos árabes, o Habib’s passou também a servir os produtos da concorrência: hambúrguer, batatinha, refrigerante e sorvete. Além da comida e da identidade visual, o atendimento e o formato das lojas também se aproximam do que existe no McDonald’s, que possui 18 mil lanchonetes espalhadas pelo mundo. Solícitos atendentes recebem o cliente no balcão, citam as opções em promoção e perguntam: “Sundae como sobremesa, senhor?” Não é mera coincidência, mas um caso de benchmarking, expressão em inglês para a reprodução exata de uma experiência de sucesso extraída do adversário.
“O McDonald’s tem grande competência e está sempre um passo à frente no mercado. É natural que a fórmula que eles utilizem seja reproduzida”, admite Alberto Saraiva, 46 anos, fundador e dono do Habib’s. Esse ex-médico e dono de padaria é hoje a pedra no sapato do gigante dos hambúrgueres. Sua primeira loja, aberta no bairro paulistano da Pompéia há 11 anos, multiplicou-se em ritmo acelerado. Um de seus trunfos: preço baixo. Uma esfiha chega ao consumidor por R$ 0,19 em algumas lojas da rede, ou 20 vezes mais barato que um sanduíche do McDonald’s. Hoje, o Habib’s tem 150 unidades pelo Brasil. Para crescer, ele usou, a exemplo do McDonald’s, o recurso do franqueamento da marca e hoje tem uma receita anual de R$ 250 milhões. Outra de suas armas são as centrais de alimentos. Eles são preparados e enviados às lojas, o que elimina a produção nos pontos-de-venda.

Vizinhos – Seu poder de fogo ainda é pequeno se comparado aos 465 restaurantes e ao faturamento em torno de R$ 1,1 bilhão que o McDonald’s tem no País. Isso não impede o comandante do Habib’s de cutucar o gigante do fast-food. A briga esquentou de um ano para cá quando Saraiva começou a montar lojas em shoppings, onde misturava o serviço de pedido no balcão (como o McDonald’s) ao sistema de atendimento tradicional, com garçons. Atualmente, existem 12 unidades que atuam dessa forma.
No melhor estilo McDonald’s, as lojas de rua do Habib’s ganharam salões de festas, playground, estacionamentos e totens gigantes com o gênio saindo da lâmpada mágica.
Mas é na questão da localização que o tempo promete fechar. O Habib’s está montando lojas ao lado do McDonald’s. Na avenida Edgar Facó, no bairro paulistano do Piqueri, os luminosos estão cara a cara, assim como na avenida Luís Ignácio de Anhaia Melo, na Vila Prudente, também em São Paulo.
E o que o McDonald’s acha disso? Não se sabe. A reportagem de ISTOÉ recebeu como resposta da rede americana que, por uma questão de política interna, seus executivos não falam sobre a concorrência. Muito menos sobre a filosofia de evitar a instalação de lojas em shoppings onde o Habib’s esteja instalado. A estratégia de guerrilha do Habib’s, porém, mexeu com o humor da turma do Ronald. Recentemente, o McDonald’s deu o troco e fincou uma loja ao lado da concorrente brasileira na avenida Radial Leste, na Vila Matilde.
Não bastasse a disputa no Brasil, o McDonald’s terá de aturar o Habib’s também no México. Alberto Saraiva pretende abrir 220 unidades nos próximos seis anos naquele país. Depois disso, o próximo passo será a Califórnia, Estados Unidos. “Vamos vender esfiha na terra do hambúrguer”, diz Saraiva.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias